Num dia em que percorria as artérias mais frequentadas de uma rede social, deparei-me com a singela declaração:
Amote Amote Amote
Para sempre!
Sensibiliza a declaração pública do sentimento mais nobre, mas envergonha a forma. A falta de um simples hífen leva os sons do amor a rimar com “pote” ou com “serrote”. Até parece “trote”! Faz falta o pequeno hífen à harmonia do amor.
Mais à frente, ao virar de uma esquina virtual, estranhei a gratulação endereçada a uma tal Joana:
Benvinda
Só tu és o meu amor!
A afirmação leva-me a imaginar uma traição ao estilo de Flaubert: “Benvinda”, com maiúscula e tudo, é nome próprio, e de mulher! Como interpretará a tal Joana a afirmação? Só ela o saberá… E saberá para dar pelo perigoso jogo de palavras? Um hífen teria evitado todos os equívocos. Muito mais romântico teria sido:
Bem-vinda
Só tu és o meu coração!
Outras portas se abririam! E as da minha imaginação fechar-se-iam por falta de estímulo, é certo!
As redes sociais são ricas em temas amorosos, e não raro profusamente ilustrados. Eis senão quando me deparei com uma fotografia romântica de um casal apaixonado assim legendada:
Da-mos
Os nossos corações ♥
Imediatamente, o meu cérebro coloca um acento em «dá» e vê uma declaração de ganância proferida por alguém que iludiu a companheira e agora quer ficar com tudo, a lembrar aquele marinheiro lusíada, cuja mulher, na praia de lágrimas banhada, denunciava: «Esse coração que levas é meu e não teu!» Pelo menos esse não foi movido pela avidez (digo eu que não me identifico com o Velho do Restelo)!
Duvidaríamos bem menos da condição humana se a legenda tivesse sido:
Damos
Os nossos corações ♥
Mas isso já seria platonismo em excesso para os hífenes do amor!
N.A.– Os casos aqui relatados são ficcionais e qualquer coincidência com a realidade é mera (e infeliz) coincidência.