Actualmente, há uma maior tolerância para com as pronúncias regionais, mesmo no registo formal. Não acho, por isso, haver erro na inserção (ou epêntese) de um "i" entre uma palavra terminada por "-a" e outra começada por um "a-" (aberto ou fechado) tónico em sequências como «a água» (=«a-i-água») ou «a Ana» (=«a-i-Ana»); trata-se de um processo característico dos dialectos setentrionais do português europeu. Em Évora, certamente se observarão traços dialectais na pronúncia local: por exemplo, a tendência para monotongar o "ei" medial de maneira ("manêra") ou o ão de não antes de outra palavra («nã sei»).
Quanto às pronúncias apontadas pelo consulente, nas duas primeiras, tal como estão descritas, não se percebe a diferença. No entanto, a terceira, "coalho", é por certo a pronúncia da palavra coelho no dialecto de Lisboa, a qual se representa figuradamente e com maior adequação por "coâlho" (transcrição fonética: [ku`ɐʎu]), com o chamado «á fechado». Visto que o consulente é estudante de Teatro, admito que lhe seja necessário muitas vezes adaptar-se à pronúncia-padrão do português europeu, que, quer se goste, quer não, absorveu muitos traços dialectais da capital — por exemplo, a pronúncia "â" ([ɐ]) da letra e antes de consoantes pré-palatais (veja, fecha) e palatais (espelho, venho).