Como se sabe, em português europeu, existe um processo de neutralização vocálica que afecta a realização das vogais átonas (este processo não se verifica em português do Brasil nem no galego). No entanto, há excepções, a maioria delas por razões históricas: normalmente, trata-se de vogais abertas que são o resultado da crase (isto é, contracção) de vogais átonas em hiato. Fazer um inventário das palavras que incluem essas vogais abertas átonas não é fácil, pelo risco de omissões. Aconselho, por isso, a consulta de um dicionário que inclua transcrições fonéticas, como o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora.
Contudo, fica aqui uma pequeníssima lista de palavras que têm vogais de timbre aberto em posição átona pré-tónica (ver Edwin Williams, Do Latim ao Português, Rio de Janeiro, Edições Tempo Brasileiro, pág. 104 e Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa):
ALAVARIU- > Aaveiro > Aveiro
CALAVARIA > caaveira > caveira
CŎLŌRĀTU- > coorado> corado
GUADANIĀ RE > gaanhar (ou guanhar) > ganhar
*EXCADESCĔRE (verbo frequentativo de excadere, «cair para fora») > escaecer > esqueecer > esquecer
PRAEDĭCāRE > preegar > pregar
Em todas esta palavras havia uma consoante intervocálica (geralmente um -l- ou -n-, mas também -d-). A supressão da consoante criou hiatos entre vogais (por exemplo, "aa", "oo" e "ae" ou "ee"), resolvidos por fen{#ó|ô}menos de contracção vocálica, ocorridos provavelmente entre o século XVI e o XVIII.
Repare-se que no caso de esquecer há supressão de consoante intervocálica, depois assimilação de [a] ao "é" aberto seguinte ([ɛ], em Alfabeto Fonético Internacional) e finalmente a crase de dois ee seguidos.
A{#c|}tualmente, observa-se que, em português europeu, alguns falantes começam também a fechar estas vogais abertas átonas, ao que parece não porque apliquem a regra do vocalismo átono, mas mais porque tal vogal pode anteceder uma consoante nasal. É esta a situação de ganhar, que anda a ser pronunciado com "a" fechado ([ɐ]) na primeira sílaba.
E já que a resposta se destina a um galego, convém saber que, apesar de nos dialectos galegos poder registar-se alguma tendência para fechar as vogais átonas, o facto é que em galego-padrão (como no português do Brasil) não se chegou à neutralização sistemática das vogais átonas. Por isso, embora tenha havido fenómenos de hiato e crase como em português, não parece ter havido a distinção entre vogais fechadas e abertas em posição átona.