O que o consulente nos pede não é fácil, porque as unidades territoriais em questão são habitadas tanto por russos como por não-russos, ou, se preferirmos, por não-eslavos. Vamos, mesmo assim, procurar satisfazer o pedido que nos é feito.
Deste modo, por meio do Oxford Beginner´s Russian Dictionary (OBRD), pudemos apurar que em Janeiro de 2006 a Federação Russa era constituída por 88 unidades políticas: 21 repúblicas (só estas têm constituição), 7 krais e 49 oblasts, 2 cidades com estatuto federal, 1 oblast autónomo e 9 okrugs autónomos (mantivemos a transliteração inglesa da fonte consultada).
Ainda segundo a mesma fonte, convém explicar que krai («território»), oblast («região») e okrug («distrito») são as designações de territórios que, ao contrário das repúblicas, não têm constituição política. Note-se também que os okrugs se situam todos em áreas escassamente povoadas da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia; com a excepção do okrug de Agin-Buryat, a população destes territórios é composta por uma pequena minoria indígena e por 60% a 70% de russos.
Note-se que nas fontes consultadas incluí duas obras portuguesas (Vocabulário da Língua Portuguesa — VLP —, de Rebelo Gonçalves, e Dicionário Enciclopédico Lello Universal — DELU), uma brasileira (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa — DHLP—, útil para identificar alguns gentílicos) e um sítio português, o Dicionário de Gentílicos e Topónimos, do Portal da Língua Portuguesa. Há uma página da Wikipédia que faculta uma lista de todos estes nomes, mas algumas formas podem ser discutíveis por não estarem respaldadas na tradição lexicográfica.
Cabe ainda observar que, neste caso, considero mais correcto falar de etnónimos e não de gentílicos, porque, estes costumam designar o cidadão (natural ou habitante) de uma cidade ou de um país, enquanto aqueles designam grupos étnicos. Justamente o que acontece, pelo menos com as repúblicas, é que os nomes estão relacionados muitas vezes com tais nomes étnicos. Por isso, usarei o termo etnónimo para designar o natural de uma dessas repúblicas que pertence ao grupo étnico que lhe der nome, sem considerar a população russa.
Segue-se então a lista dos nomes na transliteração inglesa que constam no OBRD, juntamente com indicações sobre a sua forma portuguesa e respectivo etnónimo.
1. Repúblicas
Adygea: na Wikipédia aparece a forma «Adiguésia», que não está atestada nas outras fontes.
Altai: Altai; existe o substantivo e adjectivo altaico, «indivíduo natural ou habitante dos montes Altai», o qual poderá ser usado como etnónimo (e gentílico) desta república.
Bashkortostan: derivado do etnónimo baquir (ou basquir; cf DELU), existe o nome Baquíria (cf. idem); na página da Wikipedia em referência, propõe-se Bascortostão, que não me parece melhor que Baquíria.
Buryatia: Wikipédia propõe «Buriácia», que é forma possível, mas ainda não atestada em fontes lexicográficas; parece-me mais prudente, para já, adoptar República dos Buriatas, com o etnónimo buriata.
Chechen Republic: Chechénia (português europeu) e Tchetchênia (português do Brasil); gentílico: checheno ou tchetcheno.
Chuvash Republic ou Chuvashia: o Dicionário Lello apresenta a designação República dos Chuvacos, e as outras obras não dão pistas; contudo, as formas actualmente mais correntes, por exemplo, na Internet, são Chuváchia/Tchuváchia e, como etnónimo, chuvache e tchuvache (a forma com <tch> é preferida no Brasil, como em tcheco).
Dagestan: Daguestão; etnónimo (não atestado): daguestanês.
Ingush Republic: há quem proponha Inguchétia e inguchétio (Wikipédia); em Portugal, a imprensa usa Ingúchia, forma não atestada nas fontes consultadas, mas que tem razão de ser, por derivar de um etnónimo há muito atestado ingucho (cf. DELU).
Kabarda-Balkar Republic: na imprensa portuguesa tem surgido a forma «Kabardino-Balkaria», que também se usa em inglês; no entanto, o Dicionário Lello regista Cabárdia-Balcária e, como etnónimo, cabardo ou cabardiano; na Wikipédia surge Kabardino-Balcária, que não é consistente do ponto de vista ortográfico.
Kalmykia: existe o etnónimo calmuco, pelo que se pode derivar Calmúquia, que encontro atestada só em muitas páginas da Internet; em alternativa, pode-se usar República dos Calmucos.
Karachay-Cherkess Republic: a Wikipédia apresenta «Carachai-Circássia», que parece bem formada, mas não se encontra nas fontes lexicográficas consultadas; em alternativa, República Karachay-Cherkess.
Karelia: Carélia; etnónimo: carélio.
Khakhassia: Cacássia, que só na Wikipédia encontro.
Komi: sem aportuguesamento até à data, mas é possível "Cómi", com a mesma forma para o etnónimo.
Mari El: sem aportuguesamento, mas a própria forma inglesa não obriga a alterações ortográficas em português; o etnónimo é mari.
Mordovia: Mordóvia e mordoviano (cf. DHLP) e morduíno (cf. VLP e DELU).
North Ossetia Alania: já existe Ossétia e o etnónimo osseta (com a variante osseto; cf. DHLP), e é possível Alânia (não "Alania", como aparece na Wikipedia), conforme Germânia, Albânia e Oceânia; assim, sugiro Ossétia-Alânia do Norte.
Sakha ou Yakutia: o primeiro não tem aportuguesamento atestado, mas o segundo tem — Iacútia —, e o etnónimo é iacuto.
Tatarstan: derivado do etnónimo tártaro, existe Tartária quer para designar antigamente a Sibéria e regiões adjacentes quer como nome de república federada (cf. DHLP); a página da Wikipedia em referência apresenta Tartaristão, que também é possível, mas afigura-se-me preferível Tartária por ter mais tradição em português.
Tuva: não necessita aportuguesamento gráfico; o respectivo etnónimo não está atestado nas fontes consultadas, mas o uso de tuvano numa página da "internet" é aceitável.
Udmurt: Udmúrtia (cf. DHLP); quanto ao etnónimo, usa-se na "internet" a forma "udmurto", não registada na fontes lexicográficas consultadas.
No caso das outras unidades administrativas, parece-me que é, na maior parte dos casos, pouco prático (pelo menos, para já) propor aportuguesamentos. Por outro lado, a manutenção das formas russas pode dificultar a construção de gentílicos, embora se possa sempre associar os prefixos -ês e -ense aos topônimos em questão. Como já nos encontramos no campo da pura neologia, e porque calculo que tais gentílicos não iriam de ser uso frequente, sugiro que na falta deles se recorre a perífrases do tipo «os naturais/os habitantes/os cidadãos de X (nome da unidade administrativa)».
Seguem-se as listas de nomes de "krais", "oblasts" e "okrugs":
2. "Krais"
Recomendo o uso da expressão «o "krai" de...» seguido do topónimo.
Alta: Altai (ver supra).
Khabarovsk: sem aportuguesamento atestado.
Krasnodar: idem.
Krasnoyarsk: idem.
Perm: idem.
Primorskiy Krai: «["krai] de Primorsk»
Stavropol: sem aportuguesamento atestado.
3. "Oblasts"
São poucos os topónimos que tenham aportuguesamento. Os nomes que se seguem já não têm por base um etnónimo, pelo que optei por referi-los a todos quer correspondam a regiões da Rússia histórica quer a zonas da Ásia mais tarde colonizadas por russos.
Arkhangelsk
Astrakhan: Astracã
Belgorod
Bryansk
Chelyanbinsk
Chita
Irkutsk
Ivanovo
Kaliningrad
Kaluga
Kamchatka
Kemerovo
Kirov
Kostroma
Kurgan
Kursk
Leningrad: Leninegrado
Lipetsk
Magadan
Moscow: Moscovo
Murmansk
Nizhniy Novgorod
Novgorod
Novosibirsk
Omsk
Orel
Orenburg
Penza
Perm
Pskov
Rostov
Ryazan
Sakhalin: Sacalina
Samara
Saratov
Sverdlosk
Smolensk: Esmolensco (DELU; pouco ou nada usado)
Tambov
Tver
Tomsk
Tula
Tyumen
Ulyanovsk
Vladimir
Volgograd: Volgogrado
Vologda
Voronezh
Yaroslavl
4. "Oblast" autónomo
5. "Okrugs" autónomos
Chukot: idem.
Evenki: idem.
Kanty-Mansi Yugra: idem.
Komi-Permyak: idem.
Koryak: idem.
Nenets: idem.
Taymyr (Dolgano-Nenets): idem.
Ust-Ordyn-Buryat: idem.
Yamalo-Nenets: idem.