"Debêntures terão alíquota de IOF menor". Desde que leu este título numa matéria de um jornal do Rio, há quase meia década, um jornalista da Geral praticamente desistiu de ler algo sobre Economia. De lá para cá, muita coisa mudou nas editorias. A economia estável trouxe a cobertura para o mundo real e há muita casa própria, caderneta de poupança, taxas de juros do comércio, simulações sobre o desconto do Imposto de Renda e desemprego nas páginas.
O noticiário mais árido, que dentro das editorias é identificado como macroeconomia, contudo, não pode ser desprezado. Por isso, os veículos têm tentado facilitar a vida dos leitores, explicando com o máximo de detalhes esses conceitos. A Folha de S. Paulo costuma usar parênteses ou frases no meio do texto para esclarecer seus leitores. No Globo, logo depois de assumir a editoria, em março de 1995, a jornalista Joyce Jane criou o box "Traduzindo o economês".
Para quem quer abrandar o trauma, ganhando intimidade com o tema antes de encarar as páginas da economia, aí vai um pequeno glossário, com os assuntos mais frequentes:
Déficit público - É mais ou menos o que faz pobres mortais recorrerem ao cheque especial para conseguir chegar até o fim do mês. O Governo gasta mais do que arrecada, por isso é obrigado a recorrer ao mercado financeiro para pedir empréstimos e financiar suas contas.
Déficit primário - É a diferença entre receitas (tudo o que se ganha) e despesas (os gastos). Mas sem computar a correção monetária e os juros.
Déficit operacional - Aqui o déficit primário é somado aos juros que o Governo paga pelos empréstimos que toma.
Déficit nominal - Neste estão computados juros e correção monetária. Nem precisa falar que é o maior dos três números.
Meios de pagamento - Nome completo do famoso Ml. É todo o dinheiro que os brasileiros têm nas carteiras somado aos chamados depósitos à vista, a grana que fica na conta corrente sem ser aplicada.
Base monetária - Esta aqui é a soma de todo o dinheiro emitido no país – as notas e as moedas do real, pessoal – e das reservas bancárias, que ficam depositadas no Banco Central.
Balança comercial - É o saldo de todas as exportações brasileiras diminuídas do volume de importações. Em 1997, o número ficou negativo em cerca de US$ 9 bilhões. Ou seja, o país comprou muito mais do que vendeu para o exterior.
Taxa Básica do Banco Central - É a TBC, aquela que praticamente dobrou nos primeiros dias da crise dos mercados. Fixada pelo Banco Central, ela é uma espécie de patamar mínimo dos juros no país. Serve de base para as taxas do crediário, das aplicações financeiras e do cheque especial, por exemplo.
Taxas de Assistência do Banco Central - A chamada TBAN é a taxa que o BC cobra das instituições financeiras que precisam recorrer às suas linhas de empréstimos. Funciona como um patamar máximo de juros para o mercado financeiro e, assim como a TBC, é fixada pelo Comitê de Política Monetária, o Copom.
Bancos de atacado - Também chamados de bancos de investimento, são as instituições que se dedicam à administração de recursos ou operações de reestruturação, compra, venda ou fusão de empresas. Ao contrário dos bancos de varejo, não têm rede de agências, conta corrente ou talões de cheques.
Juro real - É a taxa cobrada do crediário ou paga às aplicações financeiras descontada da inflação do período.
Alavancagem - Representa a quantidade de dinheiro de terceiros que um banco empresta ou aplica em relação a seus recursos próprios. Um banco com patrimônio de, por exemplo, R$ 100 milhões pode se alavancar em, no máximo, nove vezes. Ou seja, pode emprestar até R$ 900 milhões.
Mercados derivativos - É o mercado no qual a formação dos preços deriva do mercado à vista. Os mercados futuros de dólar ou de Índice Bovespa, negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), são exemplos de derivativos.
Bandas cambiais - É o sistema que permite a oscilação do dólar entre um piso e um teto determinado pelo Banco Central. Foi adotado no Brasil a partir do Plano Real.
Swap - Digamos que uma instituição tem uma quantia a receber corrigida pela TR e outra a pagar, reajustada pelo DI e a expectativa é de que esta suba mais. O contrato de swap permite a troca de indexadores. Assim, a instituição receberá a diferença de taxas e ficará com as operações casadas.
Hedge - São as operações de protecção contra o risco. Se um investidor tem dívida em dólar, por exemplo, e acredita que a moeda vai cair, ele faz operações no mercado futuro que garantam a diferença se a alta se confirmar.
Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDI) - São os empréstimos feitos entre instituições financeiras.
Bônus - Chamados também de bonds, são os títulos emitidos para captação de recursos no mercado internacional.
Securitização - É quando o Governo, por exemplo, deixa de pagar uma dívida e a transforma num título que o credor pode negociar no mercado com deságio.
Debêntures - São títulos emitidos pelas companhias abertas para captar dinheiro no mercado.
Anexo IV - É a legislação que controla a entrada do dinheiro estrangeiro, que será aplicado nas bolsas de valores.
Déficit em conta corrente - É o mesmo que déficit em transações correntes. Engloba, além das exportações e importações, a chamada conta de serviços, que inclui frete, seguros, etc.
Balanço de pagamentos - É a consolidação de todas as contas externas do país. Inclui, além da balança comercial e da conta de serviços, todos os empréstimos e remessas ao exterior, investimentos, pagamento de juros, etc.
Glossário adaptado por "Lide – A Revista do Jornalista", do Rio de Janeiro, edição de Dezembro de 97, a partir de um trabalho da jornalista Joyce Jane, no "Globo".