Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: História da língua
Gonçalo Falcão Professor Lisboa, Portugal 12K

A palavra família tem acento. Contudo os jazigos do Cemitério dos Prazeres [...] [em Lisboa] têm uma grande percentagem de inscrições com família sem acento.

Estou a fazer uma recolha de letras dos jazigos e verifico que a iliteracia tipográfica é frequente contrastando com o investimento arquitectónico: problemas de espaçamento (entre letras e entre palavras), de escolha tipográfica (o novo jazigo dos escritores portugueses é um bom exemplo, mas até um em Comic Sans encontrei), de boa anatomia das letras, de composição (o do Jaime Cortesão…) etc. Mas intrigou-me bastante o aparecimento muito frequente da palavra família sem acento.

A acentuação da palavra é uma coisa recente (muitos dos jazigos vêm do século XIX e os mais recentes podem ter querido grafar à antiga para sugerir a tradição familiar)?

Obrigado pela ajuda desde já.

Amanda Soares Estudante Recife, Pernambuco, Brasil 2K

Consultei vários glossários e dicionários e nenhum, dos que possuo, pôde me auxiliar no entendimento dessa contração marcada pelo apóstrofo («que a'm poder tem») nos versos que se seguem.

Trata-se de uma sinalefa? Se sim, como desenvolvê-la e como construí-la na ordem direta?

«(...) Deus nom mi a mostre, que a 'm poder tem,
se eu querria no mundo viver
por lhe nom querer bem nem a veer.'»

(Rui Pais de Ribela, ''A mia senhor, que mui de coraçom")

Desde já, agradeço a atenção dispensada.

Lucas Tadeus Oliveira Estudante Mauá, Brasil 6K

Quando se passou a tratar por vós a pessoa respeitável que conheçamos, em vez de usá-lo, esse pronome, a referir a várias pessoas?

E quando surgiram os demais pronomes de tratamento, como Senhor, Vossa Mercê (você/"cê") e tantos outros.?

Os latinos os usavam, tinham os seus próprios ou não possuíam esse tipo de pronome, preferindo apenas os velhos e bons tu e vós àqueles?

Luís Costa Correia. Lisboa, Portugal 2K

Na introdução da vossa página inicial refere-se que este serviço é gracioso.

Creio contudo que deveria ser dito gratuito em vez de gracioso.



Armando Dias Reformado Lagos, Portugal 4K

Há dias, ouvindo uma entrevista televisiva ao coreógrafo e professor luso-cabo-verdiano de artes circenses Pascoal Furtado, o entrevistador pronunciou sempre a palavra acrobata, com o "o" acentuado (/akròbata/).

Parece-me um erro, certo?

Muito obrigado.

Álvaro Oliveira Faria Reformado Lisboa, Portugal 6K

Tenho esta dúvida: qual a razão de o género nos cardinais um/uma e dois/duas ser o masculino e o feminino e nos restantes haver apenas o neutro?

Obrigado.

Carlos Almeida Professor Viseu, Portugal 3K

Porquê escrever coletânea, e não "coletânia" para uma coleção de textos?

José de Vasconcelos Saraiva Estudante de Medicina Foz do Iguaçu, Brasil 2K

Gostaria de que me esclarecessem quanto à pronúncia brasileira: esôfago com o fechado? Havia-a em Portugal? A par de esófago, havia a pronúncia esôfago?

Será devida ao espanhol? Penso que o português do Brasil regista muitos espanholismos, conservados, de alguma maneira, em razão de Portugal ter caído sob a regência de Espanha durante a União Ibérica, de 1580 a 1640. Nalguns dialetos do Sudeste (São Paulo) e do Sul do Brasil, talvez em virtude da imigração portuguesa, ouvidos atentos percebem destroços de falares portugueses misturados com a sucessiva falta de escola que durou quase todo o período republicano da nossa história: o o de António não sofre a nasalização do n, da mesma maneira que o o de fenómeno soa como o o de . Certamente Carlos Fino tem razão ao dizer que o Brasil foi «desbravado, alargado e defendido» por portugueses[1], e certamente o Brasil, por infelicidade, caiu no marasmo por azo da queda da monarquia dos Braganças, o que pode abranger também Portugal, mas isso escapa ao escopo da minha pergunta.

Desejava saber se para além de estômago, há outras palavras que se acentuam graficamente com acento circunflexo nos mesmos contextos, ou se estômago é a única exceção. Quanto à nasalização da vogal anterior que se verifica nomeadamente no Nordeste brasileiro, onde há muitos engenhos caiados de branco, região envelhecida de forte tradição portuguesa, a julgar pelos apelidos das pessoas, pelo que se escreve Antônio, embora a vogal nesse contexto não seja fechada como o é em alemão; em alemão, Antonius,  sim, o o é de facto fechado e o n não passa a sua nasalização à vogal anterior, por isso que considero errónea a grafia com acento circunflexo, porque a escrita é tentativa imperfeita de representar os sons da fala e porque o o naquele contexto não é fechado, mas nasal.

Pois bem, havia essa pronúncia nasal no Português europeu velho com nasalização da vogal tónica por azo da consoante nasal?

Obrigado.

 [1 N.E. – O consulente refere-se a um texto do jornalista português Carlos Fino, intitulado "Portugal-Brasil: em defesa de uma relação especial".]

João Nogueira da Costa Almada, Portugal 2K

Qual será o significado concreto da terminação -um em vocábulos como vacum, ovelhum, cabrum, bodum?

Consultei o Dicionário Houaiss que apenas nos esclarece que vem do latim -unu- > - ũu > -um.

 

João Nogueira da Costa Almada, Portugal 3K

Parece não haver dúvidas que o vocábulo latino *insapidus, do latim clássico insipidus, originou o nosso vocábulo enxabido, que, com o prefixo de reforço des-, deu origem a desenxabido.

A minha pergunta é se é possível saber-se por que razão estas palavras se escrevem com x em vez de s, como acontece em algumas regiões aqui referidas na resposta "As variantes de desenxabido".

Muito obrigado,