Não é possível garantir que o provérbio em questão tenha origem portuguesa, mas é possível afirmar que na sua génese está uma metáfora.
O Dicionário de Provérbios (edição do Município de Pinhel e do autor, Manuel Madeira Grilo, 2009) interpreta o provérbio do seguinte modo: «A má qualidade não ajuda ao desaparecimento das coisas. Os maus morrem tarde.» Há, portanto, uma interpretação quase literal, em que se menciona um vaso como se poderia referir (por metonímia) qualquer outra coisa, para sublinhar que da falta de qualidade não se infere pouca durabilidade. Esta constatação é depois transposta metaforicamente, como juízo moral, em que «vaso ruim» está por «pessoa má» e «não quebra», por «resiste» ou «sobrevive (sem ser castigada)». Por outras palavras, a longevidade dos maus é prémio injusto, porque se traduz na impunidade e na perduração da maldade.
Note-se, porém, que o provérbio não configura apenas uma visão sobre o sentido do mal em sociedade. Com efeito, o Dicionário de Provérbios Francês/Português/Inglês (Contexto, Editora, 2000), de Roberto Cortes de Lacerda, Helena da Rosa Cortes de Lacerda e Estela dos Santos Abreu, inclui o provérbio em questão numa série de outros em português, equivalentes ao francês «pot fêlé dure longtemps» (tradução livre: «vaso rachado dura muito tempo»), que se interpreta como «cacochymes, égrotants et hypocondres souvent vivent longtemps» (tradução livre: «caquéticos, doentes crónicos e hipocondríacos vivem frequentemente muito tempo»). A referida série é constituída pelos seguintes exemplos: «prata ruim não cai do louceiro», «vasilha quebrada dura muito», «vasilha ruim não se quebra», «vaso feio não quebra», «vaso ruim não quebra», «vida gemida, vida comprida»1.Todos estes provérbios serão interpretáveis até como encarecimento da capacidade de resistência de quantos, à partida, vivem situações de sofrimento ou exclusão.
1 Ver também, de Deolinda Milhano, o Dicionário de Ditados (Provérbios) e Frases Feitas (Edições Colibri, 2014). que, além de «vaso ruim não quebra», regista as variantes «vasilha ruim não quebra» e «vaso ruim não quebranta».