Vou tentar comentar, mais do que responder, as suas questões. Efectivamente, muitas das palavras que constituem o nosso património linguístico adquiriram já sentidos figurados suficientemente comuns para poderem ser dicionarizados. Mas a palavra, ou expressão, mais simples poderá ter, num determinado contexto, um sentido figurado, muitas vezes percebido apenas pelas pessoas que, naquele momento, estão em comunicação. É sobretudo este aspecto que é importante. O texto que escrevemos ou dizemos deve ser estruturado tendo em conta, pelo menos, dois princípios fundamentais:
a) a pessoa que o lê ou ouve tem de perceber exactamente o que estamos a dizer;
b) as regras da língua portuguesa que forem aplicadas, intuitivamente ou não, devem ser correctas e adequadas.
É dessa legitimidade que qualquer texto precisa: de ser compreendido e eficaz e de estar escrito sem atropelo da gramática.
Para atingir os princípios que apontei, cada falante recorre a estratégias que têm que ver com o seu domínio da língua portuguesa e também com o conhecimento que tem da pessoa com que está a falar ou para quem está a escrever. Se se tratar de um escritor, a pessoa para quem está a escrever é uma pessoa virtual, com capacidades linguísticas e sociais imaginadas pelo próprio escritor, mas que são tão gerais, que permitem a compreensão global da sua obra.
Como se atinge o conhecimento suficiente para obter resultados eficazes quando se comunica? Muito desse conhecimento, em língua materna, é intuitivo. Vai sendo aprendido pela criança por imitação dos adultos que a cercam. O conhecimento explícito da língua permite, mais tarde, enriquecer e diversificar os textos produzidos.