Seguindo a o ordem das questões colocadas:
1. O verbo manter — «do latim manutenere < manu- + tenere, “segurar na mão”» (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado) — tem vários significados que estão intimamente associados ao sentido do próprio étimo latino de que deriva:
— como verbo transitivo: pagar (a alguém) as despesas indispensáveis à vida: É ela quem mantém toda a família; conservar, preservar: Ela mantém os princípios da sua família; segurar: Mantém esse vidro para cima; sustentar: Ela mantém ; observar, cumprir; guardar, reter; reafirmar;
— como verbo reflexo: conservar-se: Ela mantém-se bem; alimentar-se: É ele que se mantém; resistir com êxito: Ela mantém-se firme nas suas convicções.
Relativamente ao valor que nos é indicado, com que o verbo manter é usado em algumas expressões em Angola, ou seja, o de «contrair uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher» (parafraseando o consulente), não podemos deixar de assinalar que à ação de se «contrair matrimónio», de se «iniciar uma relação conjugal» e de se «arranjar marido ou mulher» se associa(va) a ideia de se «segurar na mão» do outro(a)/companheiro(a), de se amparar (física, emocional e economicamente), o que (até há muito pouco tempo) correspondia a «sustentar» e a «pagar as despesas indispensáveis à vida». Repare-se que não era invulgar (nem incorreto) dizer-se frases como «Agora, já tem quem o(a) mantenha» para designar precisamente uma situação de casamento, de comunhão de facto, ou seja, de qualquer tipo de relação semelhante à conjugal.
Repare-se, também, no sentido de uma expressão popular da língua portuguesa — «teúda e manteúda» — em que o particípio irregular do verbo manter (manteúda1 = mantida) expressa precisamente a ideia «mulher que vive por conta de um homem» (Orlando Neves, Dicionário de Expressões Correntes, Lisboa, Editorial Notícias, s. d., p. 356). Aliás, apesar de o termo manteúdo ser pouco usado atualmente, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (2010), da Porto Editora, regista-o como adjetivo que designa «que é sustentado por outrem; mantido; alimentado».
2. Importa esclarecer que não existem a formas "mante"*, "manteste"* nem "manteu"* (agramaticais) do verbo manter — «Não se “mante” uma moça, senhora, etc. para ser esposa de um homem [...]. Quando se "mante", ela fica em bom estado [...]», «Nunca mais te vi. Pensei que já "manteste"!», «Ela já "manteu" mesmo», «Ela ainda não "manteu". Porque é menora* de 18 anos.».
As formas corretas são mantém (3.ª pessoa do singular do presente do indicativo) nas duas primeiras frases, mantivesses (2.ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do conjuntivo) ou «estivesses mantida/manteúda» e «se manteve» (3.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo) ou «se encontra/está mantida/manteúda».
Por isso, mesmo que se trate de registos de enunciados do discurso oral, não podemos deixar de assinalar a ocorrência de erros de conjugação do verbo. Portanto, dir-se-á «Não se mantém uma moça, senhora...», «Quando se mantém», «Nunca mais te vi. Pensei que já te mantivesses, «Ela já se manteve mesmo», «Ela ainda se não manteve. Porque é menor2 de 18 anos.».
De qualquer modo, não nos parece que os últimos enunciados (corrigidos) — «Nunca mais te vi. Pensei que já te mantivesses!», «Ela já se manteve mesmo», «Ela ainda se não manteve. Porque é menor de 18 anos.» — correspondam ao sentido dado às formas verbais das frases originais apresentadas pelo consulente. Porque as correções feitas colocam o verbo manter na forma pronominal («te mantivesses» e «se [não] manteve»), significando que seriam as próprias pessoas a que se referem que se sustentassem, de forma independente, sem o auxílio de alguém/outrem.
Ora, da leitura que se faz dos enunciados originais, apercebemo-nos de que o valor atribuído a essas formas é, respetivamente, o de «fosses mantida/manteúda» [«Pensei que já fosses mantida» ou que «já estivesses na situação de mantida»], «já está/é/se encontra mantida/manteúda» [«Ela já está/é mantida»] e «Ela ainda não é mantida/manteúda. Porque é menor de 18 anos.»
1 Vasco Botelho do Amaral, no seu Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (Lisboa, 1958, p. 380), alerta para a existência do particípio irregular do verbo manter — manteúdo —, a par do particípio regular mantido.
2 Menor é um adjetivo de dois géneros, o que implica que não tenha a forma feminina. Por isso, não existe a forma "menora", mas sim «menor» para se referir a qualquer pessoa (rapaz ou rapariga) que ainda não tenha atingido a maioridade.