De acordo com alguns quadros gramaticais, a aproximação entre orações relativas e coordenação corresponde a uma possível equivalência semântica que se aplica apenas às apositivas.
Com efeito, alguns gramáticos estabelecem uma proximidade entre as orações subordinadas adjetivas relativas apositivas (explicativas) e a coordenação1. Esta equivalência processa-se sobretudo no plano semântico e discursivo (e não no plano sintático).
Na Gramática do Português, coordenada por Eduardo Raposo, analisam-se as relativas apositivas do ponto de vista da distribuição da informação na frase. Relativamente a este aspeto, afirma-se: «Na interação discursiva, a informação divide-se em dois grandes tipos de unidades. Por um lado, existe informação partilhada pelos interlocutores […]. Por outro lado, existe informação nova que se quer fornecer ao interlocutor» (Veloso in ibid., p. 2112, nota 18). É neste quadro que as relativas apositivas são vistas como trazendo informação nova à frase, o que leva a que se considere que estas constituem um comentário (ou seja, introduzem informação nova) ao lado do predicado. Assim, numa frase como (1), constituem comentário tanto a oração relativa («que tiveram uma longa jornada») como o predicado («foram descansar»):
(1) «Os trabalhadores, que tiveram uma longa jornada, foram descansar.»
Esta abordagem semântico-discursiva permite aproximar as apositivas da coordenação como equivalentes: «É esta equivalência entre a oração relativa apositiva e o predicado, ambos comentários, que permite que os dois sejam coordenados (enquanto predicados) numa frase equivalente àquela em que ocorre um deles como oração relativa apositiva» (id., ibid., p. 3113, nota 18).
Neste mesmo plano de análise relacionado com a distribuição de informação nova/conhecida na frase, considera-se que a oração relativa restritiva não constitui comentário, pois, ao contribuir para restringir a significação do antecedente, ela tem estatuto de informação partilhada, já conhecida. Por este motivo não pode ser considerada equivalente ao predicado e a frase onde surge a restritiva não pode ser parafraseada por uma frase com coordenação da oração relativa com o predicado2.
Note-se, todavia, que a equivalência entre relativas apositivas e a coordenação não é consensual. Por exemplo, na Gramática da Língua Portuguesa, de Mateus et al., rejeita-se esta aproximação: «Embora a possibilidade de paráfrase por uma coordenação de frases tenha levado alguns autores a atribuírem às apositivas uma estrutura sintática subjacente constituída por duas frases coordenadas, essa hipótese deve ser afastada, uma vez que seriam necessários vários mecanismos não motivados» (p. 672, nota 21). Esta é, não obstante, uma rejeição que se atém sobretudo ao plano sintático.
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1. É o caso de Ana Brito in A Sintaxe das Orações Relativas em Português, 1988, p. 196 e de Veloso in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2112-2114.
2. Não obstante, na mesma gramática, equaciona-se a possibilidade de apositivas e restritivas poderem ser equivalentes da coordenação em condições muito restritas de utilização do artigo indefinido com valor específico. Neste contexto consideram-se equivalentes as frases (i), (ii) e (iii):
(i) «Uma irmã minha, que vive na Alemanha, gosta muito de cães.»
(ii) «Uma irmã minha que vive na Alemanha gosta muito de cães.»
(iii) «Uma irmã minha vive na Alemanha e gosta muito de cães.»
(Para maior aprofundamento desta particularidade, cf. Id. Ibid., p. 2114, nota 18)