A resposta à questão colocada pelo consulente exige que estabeleçamos uma clara distinção entre dois planos de análise: o sintático e o semântico (e pragmático).
Formalmente, no plano sintático, as orações introduzidas por que são duas orações coordenadas, sendo o constituinte «e a virtude será o teu brasão» uma oração coordenada copulativa.
Não obstante, a interpretação associada à conjunção e pode ser muito variada, indo da simples adição (1) ao valor adversativo (2), à sequência temporal (3) ou ao conclusivo (4)1, entre outros:
(1) «Eu comi uma maçã e tu bebeste um sumo.»
(2) «Trabalhei imenso e não consegui entregar o trabalho.» (= mas)
(3) «Levantou-se e foi tomar banho.» (= depois disso)
(4) «Está doente e não vai entregar o trabalho.» (= por isso, portanto)
Este último valor (também designado inferencial) é descrito por Faria da seguinte forma: «As conexões inferenciais exprimem um argumento lógico. Pertencem a este tipo de conexões coordenativas em que o conteúdo proposicional do segundo membro coordenado é inferível a partir do primeiro, apresentado como razão ou motivo» (in Mira Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 97).
Ora, no caso em apreço, também poderemos considerar a possibilidade de uma interpretação na qual a oração «vais plasmar tua integridade» é apresentada como a causa que terá como consequência «a virtude será teu brasão»:
(5) «vais plasmar tua integridade e (assim / consequentemente) a virtude será teu brasão.»
Estamos, todavia, no plano da interpretação do valor da conexão estabelecida pela conjunção e, pelo que não há lugar a considerar a possibilidade de uma construção de subordinação.
Agradecendo as gentis palavras do consulente, fico à disposição!
1. Para maior desenvolvimento, cf. Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1792-1794.