De entre as orações adverbiais analisadas pelos linguistas Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002), Mira Mateus et alii (Gramática da Língua Portuguesa, 6.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003) e João Peres e Telmo Móia (Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1995), não surgem as modais, sendo classificadas como ORAÇÕES ADVERBIAIS, as CAUSAIS, as CONCESSIVAS, as CONDICIONAIS, as FINAIS, as TEMPORAIS, as CONSECUTIVAS, as COMPARATIVAS, as CONFORMATIVAS e as PROPORCIONAIS. Verificamos ainda a existência de ADVERBIAIS dentro das ORAÇÕES REDUZIDAS – de INFINITIVO (causais, concessivas, condicionais, consecutivas, finais e temporais), de GERÚNDIO (temporais, causais, concessivas e condicionais) e de PARTICÍPIO (temporais, causais, concessivas e condicionais).
Quanto às ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS PROPORCIONAIS, tal como o próprio termo sugere, nelas, a relação de proporcionalidade é evidente, uma vez que estas orações «comportam ou conectores descontínuos, correlativos do tipo quanto mais... (tanto) mais, quanto mais... (tanto) menos, ou conectores isolados como à medida que, à proporção que, enquanto» (Mira Mateus et alii, ob. cit., p. 765). Ora, enquanto os primeiros conectores geram construções em que se estabelece uma relação clara de proporcionalidade – «neste tipo de construções confrontam-se graus de intensidade de duas propriedades (como em 1), ou de dois estados (como em 2 e 3) ou de duas entidades referidas (como em 4)» –, essa proporcionalidade também «existe com os conectores não correlativos (à medida que, à proporção que, por vezes associada a um valor temporal, como é o caso de enquanto [em (5)]» (idem), como a seguir se exemplifica [exemplos (1) a (5) ibidem; exemplo (6) retirado de Celso Cunha e Lindley Cintra, ob. cit., p. 604]:
(1) Quanto mais trabalhador fores, melhor aluno serás.
(2) Quanto mais se avança na montanha, mais difícil se torna a
respiração.
(3) À medida que as pessoas avançam na montanha, a respiração
torna-se mais difícil.
(4) Quanto mais chocolate comeres, mais terás problemas com o
colesterol.
(5) Enquanto as pessoas avançam na montanha, a respiração torna-se
mais difícil.» (idem)
(6) «À medida que o tempo decorria, as figuras iam tomando maior
vulto na sua retina.» (Joaquim Paço d’Arcos, CVL, 295)
Em relação às orações modais, de que o consulente fala, apesar de ser um caso gramatical tratado no Brasil, parece-me que as mesmas não estão incluídas na Nomenclatura Gramatical Brasileira, talvez porque tal classificação não tenha a concordância de todos os linguistas desse país, do que se pode depreender que tenha suscitado polémica no meio linguístico brasileiro.
Se recordarmos a especificidade das orações adverbiais – «as orações subordinadas adverbiais têm a mesma distribuição de advérbios, de sintagmas adverbiais e preposicionais não argumentais» (Mira Mateus et alii, ob. cit., p. 701) – e se tivermos em conta a existência de advérbios modais – «incluídos nas gramáticas quer nos “advérbios de modo” quer nos “advérbios de dúvida”, têm em comum exprimirem uma modalidade de tipo alético ou epistémico» (idem, 423) –, pode depreender-se a origem da formulação de orações adverbiais modais. Do que pude inferir da pesquisa na Internet retirada de “sites” brasileiros, é denominada oração adverbial modal toda a oração que indique o modo como foi realizada uma acção, aparecendo mais vulgarmente sob a forma de oração reduzida de gerúndio. Aparecem os seguintes exemplos:
Vê-se um sobrevivente chorando.
Aprendeu lendo os escritores clássicos.
Morrerei dizendo que estava verde.
Rosnava mostrando os dentes.
Ora, se confrontarmos essas características com as que são atribuídas às orações gerundivas, como as que «exprimem a simultaneidade do estado de coisas nela descrito relativamente ao intervalo de tempo em que se situa o estado de coisas de outra oração» (Mira Mateus et alii, ob. cit., p. 726), depreende-se que a norma portuguesa as enquadra nas orações subordinadas adverbiais temporais, uma vez que pelo gerúndio se indica, através da simultaneidade, o modo como a acção foi realizada. Através dos exemplos dados pelas gramáticas apercebemo-nos dessa correspondência:
Olhando pela janela, vi o Luís. (Mira Mateus et alii, ob. cit., p. 726)
De qualquer modo, não posso deixar de lembrar que esse tipo de orações – adverbiais modais – se restringe à realidade linguística do Brasil, o que nos coloca numa situação incómoda, porque nos confrontamos com um caso específico de diferença da realidade portuguesa.