No contexto apresentado, quer…quer é uma conjunção coordenativa correlativa, que pode ser usada com diferentes valores dominantes:
(i) valor de disjunção exclusiva, que indica a seleção obrigatória de um dos elementos coordenados, equivalente a ou…ou:
(1) «Quer vá à aula, quer não vá, tem de saber a matéria.»
(ii) valor de disjunção inclusiva, através da qual «o falante admite a possibilidade de que apenas um dos termos da coordenação satisfaça a proposição expressa pela frase, mas não fica excluída a possibilidade de ambos os termos satisfazerem a proposição» (Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1796):
(2) «O trabalho pode ser apresentado quer pelo João quer pela Maria.»
Ou seja, afirma-se que pode ser o João a apresentar o trabalho, pode ser a Maria a apresentar o trabalhar ou este poderá ser apresentado por ambos;
(iii) valor de adição, equivalente à locução não só… mas também:
(3) «Quer o João quer a Maria vêm sempre à aula.»
Pelo exposto, fica clara a existência de uma clara proximidade entre os valores expressos em (ii) e (iii). A diferença entre eles estará dependente das intenções do locutor. Como afirmam Matos e Raposo: «A possibilidade de ambos os termos de uma coordenação disjuntiva inclusiva satisfazerem a proposição expressa aproxima de certa maneira este tipo de coordenação da coordenação copulativa. A escolha pelo falante entre uma coordenação copulativa ou uma coordenação disjuntiva inclusiva pode então explicar-se do seguinte modo: ao usar a primeira, o falante acredita que ambos os termos satisfazem necessariamente a proposição, ao passo que, ao usar a segunda, o falante tem a expectativa de que um dos termos não a satisfaz, embora admita que ambos a possam satisfazer.» (in Ibidem, p. 1797).
Disponha sempre!