Com efeito, no caso em apreço, o verbo ver é um verbo transitivo direto e indireto e a palavra para pode ser, no quadro do Dicionário Terminológico, classificada como conjunção subordinativa final.
Na frase transcrita abaixo, o verbo ver pede um complemento direto e um complemento oblíquo, tendo um funcionamento de verbo transitivo direto e indireto:
(1) «Ele não via forma nenhuma naquela nuvem.»
Para confirmar a natureza de um verbo e para distinguir os constituintes que desempenham função de complemento dos que desempenham a função de modificador, podemos usar dois testes (leia-se esta resposta): o teste da pergunta-resposta e o teste de clivagem. Apliquemo-los (para facilitar a análise colocamos a frase na forma afirmativa):
(2) «Ele via uma forma naquela nuvem.»
(i) Teste da pergunta-resposta:
(2a) P: «O que é que ele fazia?»
R: «via uma forma naquela nuvem.»
(2b) P: «*O que ele que ele fazia naquela nuvem?»
R: «*via uma forma»
(ii) Teste de clivagem:
(2c) «É ver uma forma na nuvem que ele faz?»
«*É ver uma forma que ele faz naquela nuvem?»
Ambos os testes pretendem verificar se é possível afastar constituinte do verbo ou se este afastamento determina uma construção agramatical. Os constituintes que se podem afastar do verbo não são seus argumentos, ou seja, não são complementos do verbo. Neste caso, a agramaticalidade das perguntas (2b) e (2c) mostra que não é possível afastar o constituinte «naquela nuvem» do verbo, o que indica que se trata de um complemento (neste caso, oblíquo). Desta forma, conclui-se que o verbo ver é, neste caso, transitivo direto e indireto.
A palavra para introduz uma oração subordinada final, pelo que, à luz do Dicionário Terminológico, se classifica como conjunção subordinativa final.
No quadro de uma visão gramatical não escolar, existem outras propostas, como por exemplo a apresentada na Gramática da Língua Portuguesa: «nas orações finais, estamos na presença de uma preposição a introduzir um constituinte frásico, que ou é iniciado pelo complementador que, sendo a oração finita, ou não comporta tal complementador, surgindo então uma oração infinitiva»1, como acontece em (3):
(3) «Ele correu para chegar mais depressa.»
Não obstante, em contexto escolar não superior, para será classificado como conjunção, como se afirmou atrás.
Disponha sempre!
1. Mateus, M.H.M. et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 717.