DÚVIDAS

O verbo aliar e o uso pronominal

Consideremos a frase: «Nós nos aliamos a ele desconfiados.»

A função sintática do termo nos é objeto direto ou objeto indireto? Ou o termo nos não desempenha função sintática, sendo uma parte integrante do verbo?

Obrigado.

Resposta

Neste caso, o pronome nos corresponde a um clítico inerente, pelo que não desempenha uma função sintática.

O verbo aliar pode ser usado pronominalmente sem qualquer complemento, como em (1):

(1) «Os dois países aliaram-se.»

Este verbo também pode ter como argumento um complemento indireto, o que se exemplifica em (2):

(2) «A empresa aliou-se a um grupo económico.»

Neste caso, o constituinte «a um grupo económico» desempenha a função de complemento indireto. Para verificarmos se o pronome se é inerente, analisamos a possibilidade de redobro do clítico:

(2a) «*A empresa aliou-se a si própria a um grupo económico.»

A frase demonstra a impossibilidade de inclusão do redobro do clítico, o que permite concluir que se é um clítico inerente. Estas são «formas do pronome reflexo que não estão associadas a qualquer posição argumental ou de adjunto e em que o clítico não pode ser interpretado como uma partícula destransitivizadora.»1  

A mesma situação ocorre na frase apresentada pelo consulente, transcrita em (3), na qual «a ele» desempenha a função de complemento indireto e nos é um clítico inerente, sem qualquer função sintática.

(3) «Nós nos aliamos a ele desconfiados.»

Disponha sempre!

 

 

* assinala a inaceitabilidade da frase.

 

1. Mateus et al., Gramática Portuguesa. Caminho, p. 843.

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