Certos vocábulos da língua portuguesa sofrem um processo chamado gramaticalização, que diz respeito à transformação de uma palavra potencialmente passível de sofrer flexões, como um verbo, numa palavra gramatical, ou seja, numa palavra que perde sua potência flexional. Existem muitos exemplos de gramaticalização na língua portuguesa.
No caso em apreço, a forma verbal de particípio (feito; ex.: «O prato foi feito com cuidado»; «Ela havia feito os exercícios»; «Feitas as ressalvas, todos concordaram com ela») se transforma numa conjunção comparativa equivalente a como ou «assim como», portanto se torna invariável, isto é, não passível de flexão, o que torna errado o uso de feitos.
Assim, a forma correta é esta:
– Ela tem olhos brilhantes feito o Rei Sol.
= Ela tem olhos brilhantes como o Rei Sol.
Ainda vale dizer que a oração «feito/como o Rei Sol» tem, como é costumeiro em construções comparativas, um verbo subentendido:
– Ela tem olhos brilhantes feito/como o Rei Sol tem.
Em suma, nesse contexto frasal, o feito deixou de ser um verbo no particípio para assumir o estado de conjunção comparativa. No português brasileiro, esse emprego é muito comum – tão comum a ponto de o gramático normativo tradicional Domingos Paschoal Cegalla registrá-lo em sua Novíssima Gramática da Língua Portuguesa", no rol de conjunções comparativas.