Falta-nos contexto para poder dar uma resposta cabal à questão colocada. Este seria determinante para aferir as intenções do locutor ao produzir o enunciado e, deste modo, identificar o ato ilocutório praticado. Por esta razão, poderemos apenas aventar hipóteses interpretativas.
Por um lado, o locutor poderia ter a intenção de se comprometer com a realização de uma situação futura (cuja natureza não conseguimos determinar). Sendo este o seu objetivo ilocutório, estaríamos perante um ato compromissivo, cujo «objectivo ilocutório é o de colocar o falante sob a obrigação de praticar uma acção.»1 Deste modo, o enunciado em análise seria compatível com a utilização do verbo performativo prometer:
(1) «Prometo que farei como combinado.»
Por outro lado, o locutor poderia ter a intenção de apresentar uma situação como sendo verdadeira. Neste caso, o enunciado teria como objetivo ilocutório «comprometer o falante, em maior ou menor grau, à verdade do que diz, i.e., à verdade da proposição expressa.»1 O enunciado em questão seria compatível com a utilização de um verbo assertivo como informar:
(2) «Informo que está combinado.»
Note-se que a situação descrita em (2) poderá não envolver o locutor, podendo apenas descrever um acordo entre terceiros.
Finalmente, dificilmente o enunciado apresentado configurará um ato ilocutório declarativo, uma vez que este é usado para produzir novos estados de coisas. Para tal, o falante tem de estar instituído de um dado poder que lhe permite, apenas com um enunciado, criar uma realidade. Veja-se o exemplo (3):
(3) «Nomeio-te secretário.»
Só poderemos estar perante uma declaração se o falante que apresentar o enunciado tiver poder para atribuir ao interlocutor o posto de secretário. Se alguém sem poder para tal enunciar (3), nada acontecerá, pelo que não estaremos perante uma declaração. Este parece ser o caso da frase em apreço, pelo que não configurará uma declaração.
Disponha sempre!
1. Lima, P. de Pragmática Linguística. Caminho, p. 48.