Os aportuguesamentos apresentados pelo consulente são possíveis e passíveis de se generalizarem como termos técnicos. Na ciências da computação, são numerosos os termos que têm origem no inglês e que foram aportuguesados fonética e ortograficamente.
Quanto à legitimidade dos elementos de origem inglesa, o que se discute muitas vezes entre quem tem de emitir juízos normativos sobre estes anglicismos técnicos é saber até que ponto tais elementos são conciliáveis com a tradição portuguesa de formação de termos técnicos. Esta tradição parece semelhante à de outras línguas provenientes da Europa, incluindo o inglês, e traduz-se sobretudo em criar terminologias com base no grego e no latim; fora deste critério, procura-se que cada língua encontre termos vernáculos, isto é, que correspondam às características fónicas, morfológicas, morfossintácticas e ortográficas de cada idioma. Por conseguinte, o que se discute entre os mais ciosos da vernacularidade é a legitimidade do inglês enquanto língua científica e, principalmente, a aceitabilidade das palavras que nessa língua fazem parte, não do património greco-latino, que se estendeu à Europa com as devidas adaptações locais, mas do léxico de origem anglo-saxónica.
Por ultrapassada que esteja a atitude de resistência à penetração de termos técnicos ingleses, também não acho pertinente o argumento segundo o qual estes anglicismos devem ser aceites porque o conceito a eles associados não foi criado em Portugal. Aceitar esta ideia parece-me, no fundo, negar a possibilidade de toda e qualquer tradução: é verdade que há palavras e frases intraduzíveis ou difícieis de traduzir (dando razão ao velho dito italiano «traduttore, traditore» — literalmente «tradutor, traidor»), mas o português, como outra língua qualquer, é suficientemente plástico para criar neologismos com base nos seus próprios recursos morfológicos e sintácticos — mesmo quando se refere a descobertas materiais ou intelectuais do génio inventivo dos falantes de inglês.