Com o verbo flexionado no presente do indicativo, a frase apresentada não é aceitável.
A locução «por mais de» é muito frequente com verbos que regem a preposição por e que têm na sua semântica um valor de duração, como acontece com o verbo prolongar:
(1) «O filme prolongou-se por mais de duas horas.»
Esta locução pode exprimir uma quantificação indefinida (2) ou duração temporal indefinida (3):
(2) «Ele foi recebido por mais de vinte pessoas.»
(3) «Faltou a luz por mais de uma hora.»
A sua construção é possível com verbos locativos, i.e., que indiquem lugar, como acontece em (4) e (5):
(4) «Morei/Morarei aqui por mais de cinco anos.»
(5) «Vivi/Viverei aqui por mais de cinco anos.»
Estes verbos poderão estar flexionados em tempos que permitem uma delimitação temporal do início ou do fim da situação descrita. Por essa razão as frases (4) e (5) são aceitáveis com os verbos no pretérito perfeito (delimita o fim da situação) ou no futuro do indicativo (delimita o início da situação).
Todavia, a opção pelo pretérito imperfeito do indicativo ou pelo presente do indicativo já não é aceitável:
(6) «*Morava/Moro aqui por mais de cinco anos.»
(7) «*Vivia/Vivo aqui por mais de cinco anos.»
O recurso ao presente do indicativo em frases que descrevem eventos permite perspetivar a situação como algo que continua durante o tempo da enunciação e que se mantém depois dele, por um período mais ou menos prolongado. Já o pretérito imperfeito atribui um valor de duração às situações, mas, sem um tempo de referência, não consegue delimitá-las. Por estas limitações semânticas, as frases (6) e (7) não são aceitáveis, pois estabelecem uma relação entre um tempo verbal que não expressa delimitação temporal com uma locução que se relaciona com expressões delimitadas temporalmente1.
Disponha sempre!
*assinala uma frase não aceitável.
1. Para mais informações sobre a semântica dos tempos verbais, cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 514-525.