O topónimo transmontano em questão escreve-se Sucçães conforme a ortografia de 19451, mas Suçães no quadro da norma em vigor, a do Acordo Ortográfico de 19902.
Trata-se de um topónimo muito curioso, porque a grafia com cç, que a ortografia de1945 fixava, não tem explicação clara, podendo até ser muito discutível.
É verdade que o topónimo aparece sob a forma Suxaes nos Portugaliae Monunenta Historica. Leges. vol VIII (1961), na transcrição das Inquirições de Afonso III. No entanto, não é líquido que tal x fosse a representação gráfica de uma pronúncia medieval correspondente a [ks] (o valor de x em táxi, por exemplo).
Com efeito, pensando que do latim traxui resultou trouxe, que no português padrão soa "trosse", com [s] – apesar de dialetalmente ainda se dizer "trouxe", com o x de baixo, cujo símbolo fonético é [ʃ] –, seria de esperar que, num topónimo com origens medievais e transmitido por via popular, a sequência consonântica [ks] se simplificasse também como segmento simples, a soar [s] ou [ʃ]. Além disso, a consulta das Inquirições de D.Dinis de 1288 parece exibir a forma com apenas um ç, tal como o atual Suçães3. Quase quinhentos anos mais tarde, as Memórias Paroquiais de 1758 têm registo da grafia Suçães, somente com ç.
Assinale-se ainda que a etimologia deste topónimo permanece obscura4.
Em suma, a forma Suxães, tal como figura em transcrição contemporânea de um documento medieval, exibe um x, que pode não legitimar a grafia Sucçães. Não parece, portanto, de excluir a possibilidade de esta grafia decorrer de uma leitura hipercorreta da forma medieval Suxães, talvez até alheia à história da pronúncia local do topónimo.
1 Cf. Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966.
2 Cf. Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (Instituto Internacional da Língua Portuguesa).
3 Cf. Portugaliae Monumenta Historica. Nova Série. Vol IV/I. Inquisitiones. Inquirições Gerais de D. Dinis de 1288. Sentenças de 1290 e Execuções de 1291, Introdução, leitura e Índices de José Augusto de Sottomayor-Pizarro, 2012.
4 José Pedro Machado propõe que venha de um antropónimo por identificar, com genitivo em -anis (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 2003). O historiador A. Almeida Fernandes considera que a forma Suxaes «[...] nada resolve claramente», sugerindo que vem de um genitivo, «se não for um plural nasalado, isto é, ou -anis ou -ales (> -aes > -ães) – cf. deste autor, Toponímia Portuguesa. Exame a um Dicionário, 1998.