Todos sabemos que dos provérbios transparece a sabedoria popular, fruto da experiência de vida, sabedoria essa que tem sido transmitida, geralmente, por via oral, das gerações mais velhas às mais novas, passando-lhes, deste modo, ensinamentos para as mais diversas situações. Os provérbios funcionam, portanto, como um conselho verbalizado através de uma situação que pretende ser exemplificativa.
Atento aos cuidados com a saúde e ao bem-estar, o povo preocupou-se em passar as suas lições através dos provérbios, usando, sobretudo, as qualidades preventivas e curativas da água e de algumas plantas. Sobre isto, Alexandre Parafita e Isaura Fernandes, em Os Provérbios e a Cultura Popular (Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2007), esclarecem-nos, quando nos dizem que, «tal como a medicina popular é o resultado de vivências acumuladas do homem do povo na sua relação com a observação e a cura dos seus males e mazelas, também os provérbios procuram traduzir, de uma forma sintetizada, todo esse caudal de saberes terapêuticos consolidados no tempo».
Tratando-se a água de um elemento natural, a sua presença e do seu culto é bastante comum, estando nos provérbios realçadas as suas propriedades curativas, a par dos cuidados a ter com esta dádiva da natureza. Por isso, nos provérbios em que surja como referência, há «como que um aviso de que a água, não sendo pura, é prudente fervê-la, pois, para além dos atributos que ganha nesse estado, tem boas garantias de haverem sido eliminadas bactérias ou microrganismos nocivos à saúde». A exemplificar o conselho da necessidade de se ferver a água como prevenção para a saúde e a longevidade há vários provérbios muito semelhantes: «Água fervida aumenta a vida», «Água fervida tem mão na vida», «Água quente dá saúde ao ventre».
Tal como o hábito de se ferver a água, as qualidades da água corrente como símbolo de higiene – a contrastar com os perigos da água parada (que não se move e, por isso, é geradora de impurezas e de bactérias nocivas à saúde, razão pela qual não deve ser bebida) – demonstrando que «tudo o que fica parado se deteriora» (Josué Rodriques de Souza, Provérbios & Máximas em 7 Idiomas, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2001, p. 4), são evidenciados nos ditos populares, como se pode verificar em dois dos provérbios apresentados pela consulente – «Água corrente não mata a gente» e «Água detida, má para a bebida» – e, também, em outros menos conhecidos: «Água corrente esterco não consente» e «Água de lagoa nunca é boa».
O conselho de que se deve recorrer às ervas conhecidas pelas suas qualidades e à água (ou a outros elementos naturais de reconhecidas virtudes) para se tentar resolver problemas de saúde, alertando para o cuidado de se ter de guardar (de se ter «à mão» para qualquer eventualidade) está explícito no quarto provérbio da lista da consulente – «Com malvas e água fria, faz-se um boticário num dia».
Por sua vez, o provérbio «Quem se lava e não enxuga, toda a pele se lhe enruga» avisa-nos para não sermos imprevidentes nem descuidados, porque mesmo algo que seja bom e higiénico – como o hábito de nos lavarmos – pode trazer-nos mal e provocar-nos danos, se não soubermos ter os cuidados necessários.
O valor de determinadas atitudes é, também, tema de muitos provérbios. A importância da determinação e da perseverança (qualidade que tem o poder de transformar as situações mais difíceis) surge, por isso, em alguns, de que se destaca o último indicado pela consulente – «Água mole em pedra dura, tanto dá/bate até que fura».
Sobre este provérbio, R. Magalhães Junior, no seu Dicionário de Provérbios e Curiosidades (São Paulo, Cultrix, 1960), explica-nos a sua origem, identificando-o como um provérbio de origem latina, «enunciado num verso de Lucrécio, da seguinte forma: Stillicidi casus lapidem cavat (A água que tomba gota a gota fura o rochedo). A mesma coisa afirmou o poeta Ovídio, nestes versos da Arte de Amar: Quid magis est durum saxo? Quid mollius unda?/Dura tamen molli saxã cavantur aqua (O que é mais duro do que uma pedra? O que é mais mais mole do que a água? Contudo, a água mole cava a pedra dura). Fruto de uma sabedoria milenar, que remonta aos clássicos, significa, portanto, que «a constância e a tenacidade sempre vencem onde a força pode falhar» (Provérbios & Máximas em 7 Idiomas, ob. cit., p. 226).
Com o mesmo sentido de que «somente com esforço e persistência se logra o êxito», ainda outros provérbios: «Com trabalho e perseverança, tudo se alcança», «Quem não padece não merece», «Quem não faz sacrifícios não alcança benefícios», «A primeira machadada não derruba o pau».