O pronome si corresponde a se, quando é seguido de preposição (se a preposição for com adquire a forma consigo). Podemos dizer: 1 «O João olhou-se ao espelho», ou 2 «O João olhou para si próprio.» Nos exemplos apresentados, o pronome refere-se ao sujeito, mantendo um valor reflexo. Pode também ser recíproco, isto é referir-se ao sujeito mesmo quando este é plural: «Os amigos combinaram um encontro entre si.»
Este é o uso mais antigo do pronome e, segundo Paul Teyssier, in Manual de Língua Portuguesa (Portugal-Brasil) , Coimbra Editora, 1989, continua a ser o mais comum no Brasil.
Em Portugal, à medida que as formas de tratamento têm perdido alguma da sua rigidez – o que fica bem claro com a quase generalização do uso de você em vez de o senhor, a senhora – o pronome si foi conquistando um novo espaço e passou a ser usado para designar o interlocutor de uma conversa relativamente formal, em que se não usa o pronome pessoal correspondente à segunda pessoa – tu –, mas sim você, ou mesmo o senhor, ou a senhora. Este é, hoje, o uso mais corrente em Portugal, ou seja, si e consigo, usam-se mais vezes relacionados com o interlocutor do sujeito do que com o próprio sujeito. Por isso em 2 se acrescentou próprio para a frase não ficar ambígua.
A observação da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira que cita veicula uma posição que, entretanto, se alterou em Portugal. Não é muito comum num diálogo, por muito formal que seja, dizer-se «Este livro é para o senhor»; prefere-se a frase «Este livro é para si.» Note-se que há ainda muitos falantes que evitam este tipo de construção. Optam muitas vezes por referir quer o nome do interlocutor, dizendo «Isto é para o João», quer a sua função, ou título académico: «Isto é para o chefe/doutor, etc». Numa situação de maior formalidade poder-se-á dizer: «Isto é para V. E.xa». Note-se que aqui se usa a segunda pessoa do plural do pronome possessivo, embora o receptor, ou interlocutor seja um só. Continua, no entanto, a ser frequente a expressão «Isto é para a menina» quando se fala com uma jovem.
Sintetizando, em Portugal, o pronome si é usado não só como reflexo ou recíproco, relacionando-se com o sujeito, mas também, e sobretudo, reportando-se ao outro, numa situação de comunicação.
Quanto à frase «Leve isto consigo», assim isolada, não lhe identifico qualquer erro. Poderá, todavia, ser sentida como estranha em alguns contextos, dependendo do que a pessoa é "aconselhada" a levar. Se fosse para levar um saco de batatas eu não diria «Leve isto consigo», mas se fosse um documento ou um amuleto poderia muito bem usar a frase em análise.
À partida, a frase não é, para mim, errada, embora haja contextos em que o seu uso me parece mais adequado do que noutros.