Tal como o consulente e os seus colegas afirmam, trata-se do grau superlativo relativo de superioridade, porque a propriedade de este segredo ser absoluto se apresenta em maior grau comparativamente com outros: «… mais absoluto segredo.» Para se dizer que estamos perante um adjetivo no grau normal, teríamos de ter uma afirmação como: «Uma descoberta desta importância deve estar rodeada de segredo absoluto.»*
Deve esclarecer-se que o uso de absoluto no comparativo e no superlativo tem fortes restrições semânticas, como os exemplos a seguir sugerem (o ? indica que a frase revela problemas quanto à sua aceitabilidade):
1 – ?«O segredo desta descoberta é mais absoluto do que o segredo desse invento.»
2 – ?«O segredo desta descoberta é o mais absoluto de todos.»
3 – ?«Este segredo é muito absoluto/absolutíssimo.»
Em 1, 2 e 3, nota-se certa redundância, porque um segredo absoluto é já o máximo segredo, ou seja, é já um segredo a que se associa uma propriedade superlativa e absoluta. Este comportamento de absoluto aproxima-o de duas subclasses de adjetivos que a Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013. pág. 1415) denomina adjetivos avaliativos e modais, entre os quais existem alguns que não são graduáveis (isto, é não são compatíveis com as construções dos graus comparativo e superlativo): «Existe [...] um número considerável de adjetivos avaliativos, incluindo fantástico, magnífico, maravilhoso e horrível, entre outros [...] que já exprimem a ideia de um grau de avaliação extremo – por outras palavras, o grau elevado é uma parte inerente do seu significado – e que, por conseguinte, rejeitam normalmente a especificação adverbial de grau [...].» Mesmo assim, impõe-se à intuição que «o mais absoluto segredo» é uma sequência correta, o que sugere que a razão que a legitima se encontra noutra dimensão de análise. Neste caso, pode considerar-se que a expressão «o mais absoluto» se fixou na língua com função enfática e valor hiperbólico, podendo associar-se a outras palavras como nos casos de «na mais absoluta miséria» (cf. absoluto no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa) ou «no mais absoluto silêncio».
* Usa-se segredo sem artigo, fora da construção de superlativo, visto o substantivo ocorrer em sentido genérico.