As frases em questão – «Há quem diz» ou «Há quem diga», «Houve quem disse» ou «Houve quem dissesse» – destacam-se por uma particularidade a nível dos sujeitos (pessoas) das duas orações que as compõem: o sujeito da 1.ª oração («Há») é inexistente – pois o verbo haver com o sentido de «existir» é «um verbo IMPESSOAL e o sujeito, INEXISTENTE» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 130) – e o da 2.ª oração («quem diz/diga», «quem disse/dissesse») é indeterminado – uma vez que, sendo representado por um pronome relativo indefinido, «o verbo não se refere a pessoa determinada, ou por desconhecer quem executa a acção, ou por não haver interesse no seu conhecimento» (p. 129) –, factores que colocam a frase no domínio da probabilidade e da incerteza, o que pressupõe o uso do modo conjuntivo/subjuntivo.
Se nos reportarmos às regras do emprego dos modos indicativo e conjuntivo/subjuntivo, verificamos que «quando nos servimos do MODO INDICATIVO, consideramos o facto expresso pelo verbo como certo, real, seja no presente, seja no passado, seja no futuro», enquanto que «ao empregarmos o MODO CONJUNTIVO, é completamente diversa a nossa atitude. Encaramos, então, a existência ou não existência do facto como coisa incerta, duvidosa, eventual ou, mesmo, irreal.» (pp. 463-4).
Deste modo, se tivermos em conta que as frases apontam para o campo semântico da probabilidade, da inexistência e da indeterminação, dever-se-á usar o conjuntivo/subjuntivo, no presente («diga») e no imperfeito («dissesse»), respectivamente, de acordo com o valor presente («Há») e o valor passado (representado pelo pretérito perfeito – «Houve») usados na oração principal. Assim, seria «Há quem diga» e «Houve quem dissesse».
A corroborar o que foi dito anteriormente, não é de mais analisar estas frases, tendo em conta a classificação das orações e a sua relação com o emprego dos modos verbais. Vejamos:
Estando a 2ª oração dependente da 1ª – principal («Há») – partindo-se do princípio de que o verbo haver impessoal é um «verbo transitivo directo, sendo o seu objecto directo o nome da coisa existente» (p. 535) –, «quem diz/diga» ou «quem disse/dissesse» funciona como objecto directo, o que leva a que seja uma oração substantiva. Ora, «nas orações substantivas usa-se geralmente o CONJUNTIVO quando a ORAÇÃO PRINCIPAL exprime a dúvida […] que se tem quanto à realidade do facto enunciado.» (pp. 466-7).
Tudo depende, assim, do valor que atribuirmos ao que é enunciado: se for considerado certo ou real, o verbo deverá ser colocado no modo indicativo, mas se o que for dito se situar no domínio da incerteza, então, o verbo deverá ser colocado no conjuntivo.
Estas ideias parecem simples e óbvias, mas, no terreno da aplicação, nem sempre é assim tão claro…