Sinestesia é um vocábulo de origem grega, synaísthesis, cujo significado é «sentir ao mesmo tempo», e é formada a partir de syn, que quer dizer juntamente + aísthesis, que significa sensação.¹
A sinestesia é um recurso semântico capaz de tornar o texto mais expressivo, ocorrendo quando as sensações e sentidos se misturam. Isto quer dizer que podem estar reunidas num mesmo contexto diversas impressões sensoriais.
a) «deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar»²: esta descrição de uma personagem (Maria Eduarda) assenta numa comparação (com o termo como expresso), mas desperta no leitor a evidência da mistura de impressões sensoriais, tais como a visão e o olfato, própria da sinestesia. Não é infrequente que vários recursos estilísticos se entrelacem para uma maior expressividade, como acontece aqui.
b) «um dia de inverno suave e luminoso»³: estamos perante um inequívoco emprego da sinestesia, pois as sensações ligadas ao tato e à visão, veiculadas pelos adjetivos, misturam-se, ambas dizendo respeito a um mesmo nome.
Eça de Queirós é um mestre na manipulação da língua, usando todos os recursos à sua disposição para efeitos invulgares, singulares e, muitas vezes, inovadores. Estes dois casos são paradigma disso.
¹ No E-Dicionário de textos Literários encontramos a seguinte definição de sinestesia [De sin – + gr. aísthesis, «sensação» + – ia] Processo estilístico que consiste na associação, pela palavra, de duas ou mais sensações pertencentes a registos sensoriais diferentes. A utilização de tal figura de retórica permite a transposição de sensações, ou seja, a atribuição de determinadas impressões sensoriais a um sentido que não lhes corresponde. Por exemplo, na expressão “aquela cor é gritante”, a percepção visual (cor) como que é ouvida, processo que acentua a intensidade da mesma.
² Eça de Queirós, Os Maias, cap. VI
³ Eça de Queirós, Os Maias, cap. VI