Para além da prosopopeia, há a metáfora e, até, marcas de sinestesia nesse excerto.
Considerando que prosopopeia, que «também pode ser designada por personificação», se trata de uma figura de pensamento dentro das figuras de expressividade cujo «processo consiste em atribuir vida, ou qualidades humanas, a seres inanimados, irracionais ou mortos» (João David Pinto Correia, «A expressividade na fala e na escrita», in Falar melhor, Escrever melhor, Lisboa, Selecções do Reader´s Digest, 1991, p. 499), verificamos a sua presença em «o vento batia» e «estalava», uma vez que é atribuída vida ao vento.
Por outro lado, existe metáfora em «estalava as asas franjadas do xale», pois há aí a fusão de duas realidades sem o termo de ligação/comparação (as franjas do xale são como asas), insinuando o movimento ondulado das asas.
Por sua vez, as acções do vento na saia e no xale — «batia» e «estalava» —, para além do movimento que provocam na roupa da personagem, gerando sensações tácteis, sugerem também sons (sensação auditiva), o de bater e de estalar, o que nos permite dizer que nos encontramos perante um caso de sinestesia — «associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão» (Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, 2001), o que confere visualismo à narração.