O uso de «e tal» com numerais quantificadores só ocorre no discurso mais informal, justamente pela falta de exatidão1. Por outras palavras, está correto dizer «setenta e tal anos», mas esta é uma maneira de dizer que não deve ocorrer num texto formal.
É também correto dizer «tenho 70 e tal canetas», mas, como foi dito, só no registo informal.
Quando se diz «... e tal» não é possível definir a quantificação exata, mas geralmente esta pode corresponder a um valor igual ou superior a 5.
Quando a quantificação não vai além de poucas unidades (até 3, por exemplo, mas pode variar, pois a referência em mente é muito imprecisa), diz-se «70 e poucos» quando se fala em idade: «tem setenta e poucos anos» será interpretável sempre em função do contexto, podendo referir-se a idades entre os 71 e os 73/74 anos (eventualmente 75 anos).
Falando de idade, é ainda possível empregar expressões como «vinte e alguns anos»2:
(1) «Acho-me há vinte e alguns anos ligado à mulher que não devia ser minha» (Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo, in Corpus do Português).
Note-se, porém, fora do contexto em que o tema da idade é relevante, parece estranho (pelo menos, para quem aqui escreve) referir a construção a coisas: ?«tenho vinte e algumas mangas»; ?«arrumei vinte e alguns casacos».
1 No Dicionário Houaiss, regista-se «e tal» como subentrada a tal e assinala-se a expressão como um uso de Portugal: «2 Regionalismo: Portugal. usado para designar um número indeterminado que excede um número redondo; poucos, tantos. Ex.: viveram juntos duas décadas e tal.»
2 Outra construção que marca um valor numérico por aproximação é associar «e tantos/tantas» ao numeral: «Não sei ao certo que idade tem, mas terá uns quarenta e tantos anos», «Depois de umas cento e tantas páginas, desisti» (neste caso, também possível «cento e tal páginas»).