DÚVIDAS

Nomes abstratos como antecedentes de palavras relativas

Considerando as frases

«Um lugar onde possamos descansar é difícil de encontrar»

e

«Uma pessoa a quem pedimos um favor deve ser respeitada.»

 o advérbio relativo onde, no primeiro caso, e o pronome relativo quem, no segundo caso, têm antecedente expresso?

A dúvida prende-se com o facto de os nomes lugar e pessoa remeterem para uma ideia abstrata, nomeadamente pelo uso do determinante indefinido, que podem não corresponder ao referente das palavras relativas.

Resposta

Nas duas frases apresentadas, os relativos onde e quem introduzem orações subordinadas adjetivas que modificam os nomes lugar e pessoa, respetivamente. Neste contexto, tendo em conta o carácter genérico desses nomes, bem como o uso de determinantes indefinidos, questiona-se se estes podem funcionar como antecedentes dos relativos mencionados. A resposta é: sim, podem.

Em «Um lugar onde possamos descansar é difícil de encontrar», o advérbio relativo onde tem como antecedente expresso o nome lugar, que designa um espaço físico. Note-se que o pronome relativo onde caracteriza-se por ser semanticamente locativo, isto é, o seu antecedente (explícito ou implícito), à partida, denota um lugar.

 A oração subordinada adjetiva «onde possamos descansar» restringe então o sentido do nome lugar, funcionando como modificador. O uso do artigo indefinido um não invalida a presença de um antecedente, mas apenas indica que se trata de um referente não específico. Assim, do ponto de vista sintático e semântico, onde retoma diretamente lugar, que é o seu antecedente expresso.

Já em «Uma pessoa a quem pedimos um favor deve ser respeitada», o pronome relativo quem surge precedido da preposição a, formando a expressão «a quem», que introduz a oração subordinada adjetiva «a quem pedimos um favor». Na oração «a quem pedimos um favor», a expressão «a quem» exerce a função de complemento indireto do verbo pedir. Esta oração modifica o nome pessoa, que funciona como antecedente de quem. Repare-se que este pronome relativo tem um traço inerente [+ humano], que partilha com o seu antecedente.

Observe-se que há construções consagradas na língua em que quem aparece com antecedentes explícitos cujo sentido é genérico ou abstrato, como, por exemplo, indivíduo ou gente.

Em síntese, a associação dos determinantes indefinidos, como um ou uma, a diferentes nomes comuns (no caso, lugar e pessoa) não impede que estes funcionem como antecedentes de pronomes relativos. Também não existe incompatibilidade entre pronomes relativos e antecedentes realizados por nomes que denotem abstrações, ou seja, pronomes relativos como que quem ou o advérbio relativo onde podem ter como antecedentes nomes envolvidos na designação de entidades não concretas.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa