Embora em algumas gramáticas registos e níveis surjam como equivalentes, gostaria de, aqui, lhes atribuir sentidos um pouco distintos. Assim, imaginemos que, por necessidade de estruturação, a língua, como a altitude, pode ser medida, tendo como ponto de partida uma linha zero, que corresponderia ao português-padrão ou corrente. Aceitando esta interpretação, teríamos acima do grau, ou nível, zero a língua cuidada e a literária, como desvio positivo à língua corrente, e, abaixo do grau zero, eventualmente num mesmo nível, teríamos, por um lado, a linguagem popular (regionalismos, gíria e calão), por outro, a familiar. Neste contexto hipotético e discutível, poderíamos falar de níveis de língua.
A par desta distinção desnivelada, digamos assim, o discurso, ou linguagem, pode também ser visto do ponto de vista da formalidade, ou seja, do grau de cuidado que se tem quando se comunica e que é determinado pelo contexto. Aqui, poderemos falar de registo formal ou informal, motivado pelo ambiente em que a comunicação decorre e pelas relações sociais (empregado-patrão; aluno-professor; amigo-amigo, pai-filho, etc.) existentes entre os interlocutores. Creio que a frase que submete ao nosso apreço pode ser encarada do ponto de vista do tipo de registo e, claramente, trata-se de um registo informal, produto de uma conversa entre amigos. As marcas desse registo informal estão presentes na pronúncia um pouco descuidada, digamos assim, e na simplicidade do vocabulário usado.
O nível popular da língua tem marcas quer regionais, quer de gíria, quer, ainda, de calão presentes na pronúncia ou no vocabulário usado. Por exemplo, os alunos usam entre si termos que os caracterizam como grupo social. O uso de expressões como «Tenho furo porque o s´tor faltou»1 são características da gíria estudantil em Portugal, uma das variantes da linguagem popular. Também poderemos identificar regionalismos, quer pelo uso de determinadas palavras próprias de uma dada região, quer pelas marcas da pronúncia. Numa frase como «Acabou-se o lête», toda a gente identifica o Alentejo… do mesmo modo que o Norte se pode “encontrar” numa frase do tipo «A bida está má». Estes são casos que ilustram a linguagem popular, na vertente regionalismo.
Do mesmo modo, falaremos de nível, ou linguagem familiar, se houver marcas ou palavras que ilustrem uma relação de intimidade. Expressões como “quiduxo” e “nené” são características da linguagem familiar e ilustram uma relação de grande proximidade entre locutor e interlocutor.
1 «Não tive aula porque o professor faltou.»