A combinação do imperfeito com o presente do indicativo na frase apresentada é aceitável e justificável.
Antes de mais, recordemos que nem sempre o pretérito imperfeito do indicativo é usado para localizar uma situação no tempo. Na verdade, este tempo verbal pode ser usado com outros valores, entre os quais encontramos a expressão da modalidade epistémica. De forma mais concreta ainda, o pretérito imperfeito pode ser usado para exprimir uma opinião ou um julgamento, como se verifica no diálogo seguinte:
(1) A – O João plantou uma amendoeira no quintal.
B – Eu sabia!
A intervenção de B tem como intenção veicular a ideia de que a sua opinião, que era já anterior ao momento de enunciação, é verdadeira. Veja-se que esta intenção é veiculada por meio da associação do verbo saber, um verbo epistémico (de conhecimento), ao imperfeito do indicativo1.
Ora, embora não tenhamos conhecimento do contexto em que foi proferida a frase apresentada pela consulente (o qual poderia alterar esta interpretação), podemos supor que ela tem a intenção de negar um saber que o locutor julgava possuir. Daí o recurso à forma «Não sabia». Neste caso concreto, a frase inclui ainda uma oração subordinada completiva («que tenho uma amendoeira no quintal»). Esta tem o seu verbo no presente do indicativo, o que se justifica, pois o recurso ao presente permite mostrar que a situação descrita pela oração completiva se verifica na realidade.
Note-se, por outro lado, que a frase apresentada em (2) é também possível:
(2) «Não sabia que tinha uma amendoeira no quintal.»
Neste caso, os valores poderão ser semelhantes aos descritos atrás, uma vez que o imperfeito também pode ser usado para descrever uma realidade (o que justifica o seu uso na oração subordinada).
Em suma, é possível combinar na mesma frase tempos verbais diferentes, de acordo com as intenções do locutor. No caso em apreço, o que poderá justificar esta combinação será a intenção de apresentar (negando-a) uma opinião relativamente a uma situação real. Não obstante, a combinação do mesmo tempo verbal na frase é também possível, com valores que poderão ser equivalentes aos da frase original.
Disponha sempre!
1. Para maior aprofundamento dos valores associados ao imperfeito do indicativo, cf. Oliveira, F. in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 518-524