DÚVIDAS

A utilização do imperfeito do indicativo

A utilização de tempos de verbos de um modo, aparentemente, desadequado, talvez fruto de conhecimento e uso de línguas estrangeiras, tem criado discordâncias entre pessoas que chegam à fala.
Agradecia que fosse esclarecido se alguma das duas frases seguintes se pode considerar frontalmente errada ou se, em determinados contextos, elas podem ser usadas.
Assim, dirigindo-me a um bilheteiro, em vez do correcto "desejo um bilhete simples", posso dizer?
– "Desejava um bilhete simples";
– "Desejaria que me desse um bilhete simples".

Resposta

1. «Desejava um bilhete simples.»
2. «Desejaria que me desse um bilhete simples.»
Na língua portuguesa actual, literária ou falada, é muito frequente o imperfeito do indicativo (neste caso, desejava) substituir o futuro do pretérito, também designado condicional presente (desejaria).
Este facto deve-se aos múltiplos valores que o imperfeito do indicativo pode manifestar, identificando-se com alguns dos valores do futuro do pretérito, especialmente em frases onde se exprime a irrealidade. Por exemplo:
«– Se eu não fosse mulher, ia também!»
(Miguel Torga V, 307)
Com os verbos modais, tais como poder, dever, desejar, querer, etc., ainda é mais vulgar verificar-se esta substituição, em situação semelhante ou noutra, como a que apresenta, que está relacionada com a expressão de uma forma de cortesia.
Portanto, a forma verbal desejar pode considerar-se correctamente conjugada tanto na frase 1 como na 2.

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