Os exemplos apresentados na pergunta resultam efetivamente da construção de metáforas para designar fenómenos naturais e acidentes costeiros.
Ao longo da sua história de uso, há metáforas que se tornam convencionais e se fixam como simples denominações, constituindo casos de catacrese, isto é, de «metáfora[s] já absorvida[s] pelo uso comum» (cf. Dicionário Houaiss). Compreende-se assim que a configuração de rochedo pode evocar a figura de cavalo motivando a aplicação metafórica do zoónimo1 cavalo. Caso muito semelhante é o de carneiro, a que os dicionários dão, entre outras aceções, a de «crista espumosa que se forma a partir dos movimentos das ondas ou vagas, seguida ou precedida de outras» (Dicionário Houaiss).
Acrescente-se que a palavra cavalo está na origem do nome de formações rochosas marítimas ou fluviais, não só em Portugal – como acontece com o conhecido exemplo dos Cavalos de Fão –, mas também na Galiza, onde se encontram, já perto da fronteira, ainda no estuário do rio Minho, o Cabalo e o Cabalo do Forte, em ambos os casos denominações de pedras junto à água, na paróquia de Camposancos, na Guarda, no sul da província de Pontevedra (José Luis Lomba Alonso, Microtoponimia da Guarda, 2008, pág. 27). Mas, na toponímia galega, há mais exemplos da toponimização do vocábulo cabalo, equivalente à portuguesa cavalo, e de outros zoónimos como apontam Roberto Rodríguez Álvarez e Xosé Lois Vilar Pedreira, em "Toponímia Marítima e Fluvial desde o Miño a Panxón" (Ardentía, n.º 3, págs. 43-56). A sul e a norte do Minho, o mesmo tipo de metáfora ter-se-ia, portanto, tornado convencional, fixando-se na toponímia de maneira muito semelhante.
Esclareça-se, por último, que, dado o termo animismo, entendido como «ideia que consiste em dar alma a coisa inanimadas» (José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 1991), não participar hoje do reportório de figuras de retórica mais conhecido2, convém que a resposta seja equacionada entre a metáfora e a catacrese. Observe-se também que, no âmbito dos estudos de semântica diacrónica, considera-se que tais exemplos se enquadram na chamada metáfora linguística, um fenómeno geral que permite explicar a génese de muitos casos de denominação.
1 Um zoónimo é um nome designativo de um animal.
2 Uma gramática escolar que teve grande difusão nos anos 60 e 70 do século passado, o Compêndio de Gramática Portuguesa (1976), de J. M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, identificava animismo com prosopopeia e a personificação (pág. 110), termos que se aplicavam a um dos tipos de «palavras e modos de dizer com efeito estilístico» (pág. 106). Este uso de animismo, que não é confirmado noutras fontes, parece hoje esquecido, se não ultrapassado.