Os verbos poder e dever são chamados verbos modais epistémicos quando se referem à probabilidade ou à incerteza de um acontecimento ou de um estado de coisas ocorrerem. Quando essa probabilidade se reporta a eventos verificados no passado, note o consulente que estes verbos têm a particularidade de se usarem no presente do indicativo seguidos do verbo principal no infinitivo composto activo ou passivo:
(i) «Ele pode ter indicado/sido indicado.»
(ii) «Ele deve ter indicado/sido indicado.»
No caso de (i), é também possível usar o pretérito perfeito do indicativo, enquanto dever é sempre usado no presente, se tiver valor epistémico:
(iii) «Ele pôde ter indicado/sido indicado.»
(iv) *«Ele deveu ter indicado/sido indicado.»
Os verbos em referência podem ser seguidos do infinitivo simples ou do infinitivo composto, mas com outras interpretações modais, que são três
1. Modalidade interna ao participante de uma situação (só poder)
(v) «Ele pode indicar a rua, porque vai lá muitas vezes.» (= «é capaz», «consegue»)
2. Modalidade externa ao participante de uma situação
(vi) «Ele pode indicar a rua, se tiver um mapa.» (= «é-lhe dada a possibilidade»)
(vi) «Ele deve indicar a rua, porque quer ser guia.» (= «tem de», «é-lhe necessário»)
3. Modalidade deôntica
(vii) «Ele já pode indicar a rua, mas há bocado não o deixaram.» (= «agora tem permissão»)
(viii) «Ele deve indicar a rua, porque o juiz assim o ordenou.» (= «é obrigado»)
De realçar que todos estes valores modais dependem dos contextos de ocorrência, em especial dos valores aspectuais associados aos verbos.
1 Baseio-me em Mateus, M. H. M. et alii, Gramática Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, pág. 248. Sobre a definição de cada tipo de modalidade (idem, nota 7):
«[Na modalidade interna] lidamos com capacidade e necessidade (interna do participante). [Na modalidade externa] estamos alidar com circunstâncias que são externas ao participante envolvido numa situação, mas que a tornam possível ou necessária. A modalidade deôntica diz respeito às circunstâncias externas (pessoais, regras sociais ou normas...) que permitem ou obrigam o participante a envolver-se na situação. Por último, a modalidade epistémica está relacionada com o domínio da incerteza, da probabilidade.»