Num contexto mais cuidado será preferível a expressão que se apresenta em (1):
(1) «Tem / Faz dois dias que a primavera começou.»
A locução «desde que», usada com valor temporal, marca o início de uma dada situação:
(2) «Desde que li este livro, todos os outros me parecem pouco interessantes.»
Em (2), a oração «desde que li este livro» marca o limite inicial do intervalo temporal da situação descrita na oração subordinante.
Do ponto de vista aspetual, «desde que» introduz habitualmente uma oração que tem um valor pontual (ou seja, que descreve uma situação não tem um valor temporal durativo). Já o valor do predicado da oração subordinante deve ser durativo. Esta particularidade justifica a estranheza presente na frase (3), que combina duas situações pontuais:
(3) «?O João abriu a porta desde que eu o conheço.»
Estamos em crer que a estranheza que causa a frase apresentada pelo consulente e aqui transcrita em (4) está relacionada com o facto de as duas situações serem perspetivadas como pontuais:
(4) «?Tem/faz dois dias desde que a primavera começou.»
Tanto o constituinte «tem/faz dois dias» como o constituinte «desde que a primavera começou» são apresentados como situações pontuais, que aconteceram num dado momento do intervalo intemporal e que não se prolongaram. Será esta combinação de situações que causa estranheza.
Tal já não acontecerá se se introduzir uma perspetiva durativa na oração introduzida por «desde que», tal como acontece em
(5) «Dois dias já passaram desde que a primavera começou.»
Ainda assim, é de referir que a construção (4) é usada comummemente em interações do quotidiano no português do Brasil.
Disponha sempre!
?assinala a aceitabilidade duvidosa para alguns falantes.