Estratego e estrategista são formas corretas. Quanto a estratega, é forma discutível.
Começando por estrategista, é esta uma forma correta.
Quanto a estratego e estratega, ainda não será aqui que se deslinda o caso, que, mesmo assim, não chegará a confusão.
O recomendado em Portugal por autores prescritivistas era – e por enquanto continua a ser – a forma estratego, que é indiscutivelmente correta, conforme se pode confirmar no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (1940) e no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves. E se recuarmos à transição da monarquia para a República em Portugal, veremos que Gonçalves Viana só considerava estrategista e estratego.
Estratego é, aliás, a única forma que fontes lexicográficas registam como sinónima de estrategista, já que não consignam estratega – cf. Dicionário Michaelis, o Dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras1.
Assim:
– Acontece que, em Portugal, a partir de época que não é possível aqui precisar, se enraizou a forma estratega, que, por exemplo, a Infopédia regista como nome comum de dois («o/a estratega») e como feminino de estratego. Procurando avaliar em Portugal a extensão do uso de estratego em comparação com a de estratega, parece, no entanto, que este último vocábulo é mais corrente do que aquele (cf. Corpus do Português).
– Na Internet, há vários comentários sobre o assunto – um artigo aparentemente exaustivo pode ler-se aqui –, mas há uma questão que não parece ter a atenção devida: até que ponto «o estratega» não é devido ao contacto com outras línguas, talvez, por exemplo, por via da tradução? É que em espanhol (peninsular) e italiano também se encontra a alternância entre itens com as formas estratego/stratego e estratega/stratega.
– Que forma, então, utilizar no português de Portugal? Estratego está correto – não há dúvida – e recomenda-se. Mas, apesar do que já se escreveu em 24 anos de Ciberdúvidas, a verdade é que «(o) estratega» criou raízes e tem difusão. Não se aconselhando, o seu frequente uso (quando calha empregar a palavra) pode configurar, mesmo assim, a consagração de uma forma pela força do uso.
Em suma, continua-se a recomendar estratego, não obstante estratega se insinuar com força legitimadora, mesmo à revelia da tradição normativa.
1 Mesmo o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (2004) e o Guia de Uso do Português (2003), de Maria Helena de Moura Neves, obras que consideram a descrição dos usos contemporâneos, não registam ou não mencionam estratega. Contudo, uma consulta da secção dialetal do Corpus do Português, confirmando a frequência significativa de estrategista (823 ocorrências), revela também que estratego é pouco corrente (23 ocorrências) e anda associado a textos referentes à história da Grécia Antiga; e é surpreendente notar que estratega, que aparece 17 vezes, não está, afinal, completamente ausente das páginas eletrónicas brasileiras.
N.E. (13/02/2021) – No segundo parágrafo, a frase «Começando por estrategista, é esta uma forma correta, mas típica do Brasil» foi alterada e passou a ter a seguinte formulação: «Começando por estrategista, é esta uma forma correta.»