Gramaticalmente, ambas as frases estão corretas. A segunda pode ser mais explícita do ponto de vista sintático, mas a primeira aproveita a possibilidade de coordenar grupos sintáticos com a mesma função sintática – no caso, «a mais grave dos últimos anos» (que, afinal, é uma construção elíptica, porque omite certos elementos de uma oração que se subentendem: «a que é mais grave») e «que muitos consideram ser o início de uma terceira intifada (revolta)» são expressões de natureza adjetival, com a função de modificador apositivo.
É de assinalar que, na coordenação de grupos sintáticos, não é obrigatório que estes tenham o mesmo tipo de estrutura. Isto diz a Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, pág. 1768)[1]:
«As estruturas de coordenação mais típicas envolvem a coordenação de palavras ou de constituintes da mesma classe [...].
Nestes casos, existe paralelismo estrutural[2] entre os constituintes coordenados. O paralelismo estrutural, ainda que muito frequente, não é, contudo, um requisito absoluto das estruturas coordenadas. Assim, a coordenação de constituintes de classes sintagmáticas distintas é possível, como se ilustra em (21):
(21) a. Um molho [SA muito picante] e [SP com uma cor escura] acompanhava a carne.
b. [SAdv Aqui] e [SP no rio Guadiana] apareceram cianobactérias que causaram a morte de muitos peixes.
c. [SAdv Hoje] ou [Or sempre que precisares de algum livro], deves ir à biblioteca.
d. Nas férias, ela só quer duas coisas: [SN um bom livro] e [Or que a deixem em paz].
e. Os bombeiros não confirmaram [SN a natureza acidental do incêndio] nem [Or que o fogo continuava a alastrar].
[...] Existe, [...] nestes exemplos, um requisito de paralelismo funcional[3] e de paralelismo semântico[4] [...]. Isso significa que ambos os termos coordenados têm de desempenhar a mesma função gramatical e ter o mesmo valor semântico [...] que teriam caso ocorressem sozinhos na oração. [...]»
[1] N. E. – Siglas usadas na passagem citada: SA = sintagma adjetival; SP = sintagma preposicional; SAdv = sintagma adverbial; Or = oração; SN = sintagma nominal.
[2] N. E. – Quando se fala em paralelismo nos estudos literários e linguísticos, pretende-se dizer o mesmo que «semelhança ou correspondência entre construções» (cf. paralelismo no Dicionário Houaiss). Assim, por «paralelismo estrutural», entenda-se «semelhança estrutural entre constituintes da frase».
[3] N. E. – Por «paralelismo funcional», entenda-se «igual função sintática» (ver nota 3).
[4] N. E. – Por «paralelismo semântico», entenda-se «semelhança de significado» (ver nota 2).