A Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus et al. (Lisboa, Caminho, 2003), contém uma explicação minuciosa sobre o funcionamento das estruturas de coordenação, concretamente sobre a relação entre os termos coordenados. Aí explica-se que «As estruturas coordenadas apresentam tipicamente paralelismo entre os termos coordenados tanto do ponto de vista das funções sintáctica e semântica que desempenham como do ponto de vista da sua natureza categorial» (Mateus et al., 2003: 578). Poderemos exemplificar esta propriedade através das frases A. e B.:
A. «Na primeira parte da reunião, o director e o subdirector fizeram o enquadramento de mercado.»
B. «Na primeira parte da reunião, o director apresentou o enquadramento de mercado e o plano de solidariedade social da empresa.»
Nos exemplos referidos, a relação entre os constituintes coordenados («o director», «o subdirector», no primeiro caso; «o enquadramento de mercado», «o plano de solidariedade social da empresa», no segundo caso) é de paralelismo, o que não traz nenhum problema de gramaticalidade.
Há, porém, casos em que a coordenação é operada entre termos que pertencem a categorias diferentes, estabelecendo entre esses termos uma relação de assimetria. Este tipo de construção é gramaticalmente aceitável, como, por exemplo, em «Comprei um filme muito interessante e de difícil aquisição», em que a conjunção coordenativa copulativa liga um sintagma adjectival e um sintagma preposicional. Neste exemplo, os membros coordenados, embora de categorias sintácticas diferentes, formam um todo complexo que actua como uma unidade.
Mas, por vezes, a coordenação de constituintes categorialmente diversos pode ter resultados inaceitáveis, como a expressão «enquadramento de mercado e estratégico», que configura um dos casos em que a estrutura de coordenação levanta problemas de gramaticalidade.
As construções de coordenação copulativa que configuram casos de agramaticalidade são objecto de análise na obra Áreas Críticas da Língua Portuguesa, de João Andrade Peres e Telmo Móia (Lisboa, Caminho, 2003 – principalmente o ponto 6.2., pp. 382 ss.). De acordo com estes autores, o juízo de agramaticalidade sobre estruturas de coordenação pode explicar-se pelo {#facto|fato} de os constituintes coordenados poderem não ser compatíveis entre si por razões semânticas ou sintácticas.
Se depararmos com expressões como «enquadramento de mercado e estratégico» e/ou «enquadramento estratégico e de mercado», sentimos certa estranheza e consideramos a hipótese de constituírem casos de agramaticalidade. Tal pode dever-se ao facto de o sintagma nominal «enquadramento de mercado e estratégico» constituir um caso não canónico de coordenação entre constituintes de diferentes categorias sintácticas que são incompatíveis. Tal juízo pode explicar-se de acordo com duas situações diferentes, relacionadas com a intenção do locutor:
Se a intenção do locutor é fazer referência a um único tipo de «enquadramento», então não seria necessária a coordenação, uma vez que «o enquadramento de mercado» é que é «estratégico», isto é, é elaborado de acordo com uma estratégia. Por exemplo, «plano estratégico de transportes colectivos urbanos».
Se a intenção do locutor é fazer referência a dois elementos distintos – «um enquadramento estratégico» e «um enquadramento de mercado» –, então a solução passa pela destrinça desses elementos numa estrutura do tipo «enquadramento de mercado e orientação estratégica», num contexto frásico como C.:
C. «Na primeira parte da reunião, o director apresentou o enquadramento de mercado e a orientação estratégica da empresa.»