DÚVIDAS

Casos do verbo gostar

Em frases como «Eu tinha quase certeza (de) que o Carlos seria aprovado» e «A mãe do Carlos gostaria muito (de) que o seu filho tivesse sido aprovado», pergunto:

1) a omissão da preposição de diante de conjunção integrante é obrigatória, ou facultativa?

2) que explicação lógica, fundamentada, se dá à omissão de tal preposição nas duas frases acima?

3) em se omitindo, o verbo gostar (segunda frase) continua sendo transitivo indireto?

Resposta

1) A omissão da preposição de é facultativa no uso de gostar, quando este seleciona uma oração subordinada substantiva completiva, conforme apontam João A. Peres e Telmo Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pág. 113):

Entre os verbos que mais favorecem a supressão [da preposição] conta-se gostar:

(379) O Paulo gosta (de) que o elogiem.

2) Ainda segundo Peres e Móia (op. cit.), a lógica da omissão da preposição encontra-se numa estratégia de simplificação estrutural:

Ainda que a espontânea evolução das línguas não se compadeça sempre com princípios e com a harmonia do sistema, parece defensável o ponto de vista segundo o qual se um determinado predicado impõe o uso de uma preposição antes de argumentos realizados sob a forma de pronomes que pronominalizam frases — passem as incongruentes limitações da terminologia —, de argumentos nominais e de argumentos oracionais infinitivos, não parece haver qualquer razão estrutural para que essa preposição seja suprimida antes de argumentos oracionais finitos. A justificação para esta supressão parece ser apenas a do uso, correspondendo a uma estratégia de simplificação de estrutura, que é certamente — e felizmente — uma lei operante nas línguas naturais.

3) Em princípio, sim, porque a preposição está latente. Considerando que o verbo gostar tem um complemento oracional com o verbo não finito, é fácil ver que a preposição permanece: «gostaria de ser aprovado».

 

Cf. Gostava ou gostaria, em Portugal e no Brasil 

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