DÚVIDAS

A sintaxe de gostar, mais uma vez

Não é aceitável a divisão de orações proposta em 3/04/06 para a frase: «Esse é o prato que gosto de comer no final da semana.»
A consulente pergunta se há três orações; o Ciberdúvidas confirma – e faz uma análise de que discordo.
Naquela frase há, apenas, duas orações – e não é aceitável qualquer outra hipótese.
«Esse é o prato» – 1.ª oração
«que gosto de comer no final da semana» – 2.ª oração
sujeito: «eu»; predicado: «gosto de comer»; complemento de objecto directo: «que»; complemento circunstancial de tempo: «no final da semana»

Resposta

Na gramática tradicional considera-se muitas vezes que uma oração é um constituinte que exige a presença de um verbo na forma finita. Nesta perspectiva, pode acontecer que não forma oração o constituinte com um verbo nas formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio), uma vez que esse constituinte pertence à oração em que se integra.

Assim, de acordo com a gramática tradicional, a frase «Esse é o prato que gosto de comer no final de semana» é constituída por apenas duas orações, a oração principal subordinante «Esse é o prato» e a oração subordinada relativa «que gosto de comer». O constituinte «que gosto de comer» é apenas uma oração, pois o verbo comer encontra-se na forma nominal infinitiva, não podendo ser constituinte de outra oração.

De acordo com a gramática generativa, o complemento de «gostar de», ou seja, comer é uma oração completiva ou substantiva não finita. A divisão sintáctica segundo a gramática generativa é a seguinte:
a) Frase matriz: «Esse é o prato que gosto de comer no final de semana.»
b) Frase encaixada a a) (relativa restritiva): «que gosto de comer no final de semana»
c) Frase encaixada a b) (completiva ou substantiva não finita): «de comer no final de semana»
Temos portanto três orações, segundo a gramática generativa.
Para mais esclarecimentos veja Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003), e João Andrade Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995).

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