Do ponto de vista morfológico, o nome interesse pode ser ambíguo, pelo menos, no quadro do Dicionário Terminológico, que, em Portugal, é o documento orientador da descrição linguística e gramatical no contexto dos ensino básico e secundário.
No caso de interesse, é difícil determinar a direcionalidade da derivação: se do nome interesse para a formação de interessar (e, assim, seria um derivado por sufixação, embora estudos mais avançados considerem que se trata de um caso de conversão1); se de interessar para interesse, palavra que, nesse caso, seria um derivado não afixal.
No entanto, o facto de interessar ter uma leitura causativa («causar interesse», «fazer com que alguém tenha interesse»), à semelhança de outros verbos derivados de nomes, adjetivos e advérbios – por exemplo, pregar (de prego: «fazer com alguma coisa fique segura/presa com pregos»), livrar (de livre: «fazer com alguém fique livre»), adiantar (de adiante: «fazer com que alguma coisa se apareça antes») –, permite considerar que interesse não é palavra derivada, mas, sim, derivante2
Trata-se, portanto, de um caso de análise complexa, que se presta pouco a exemplificar tipicamente a derivação não afixal no contexto escolar não universitário. Melhor será abordar palavras com análise menos problemática, por exemplo, nomes claramente derivados de verbos (deverbais): perda (de perder), recolha (recolher), troco (trocar), abraço (abraçar).
1 A conversão constitui um «processo [não afixal] de formação de palavras, também chamado derivação imprópria, que procede à integração de uma dada unidade lexical numa nova classe de palavras, sem que se verifique qualquer alteração formal» (Dicionário Terminológico). Exemplo: olhar [verbo] → olhar [nome] (ibidem).
2 Ver critérios de identificação de nomes deverbais e verbos denominais na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, pp. 3220/3221). A interpretação aqui apresentada, apoiando-se nesses critérios, converge com as notas etimológicas que o Dicionário Houaiss dedica às entradas do nome e do verbo em questão: interesse vem do verbo do latim clássico interest, erat, fuit, esse, enquanto interessar (com registo, pelo menos, desde 1554) é formado pelo radical de interesse e a flexão de infinitivo dos verbos da 1.ª conjugação (interess- + -ar).