Os nossos agradecimentos pelas simpáticas palavras para com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Quanto ao que pergunta, de facto, a Reforma Ortográfica de 1911 não se estendeu ao Brasil, tal como se recorda na cronologia da ortografia da língua portuguesa, elaborada por Ivo Castro e Isabel Leiria, em "As reformas ortográficas: do romantismo à actualidade", artigo incluído em A Demanda da Ortografia Portuguesa (Lisboa, João Sá da Costa, 1987, pp. 204-218).¹ Este aspeto é igualmente realçado por Maria Filomena Gonçalves em As Ideias Ortográficas em Portugal de Madureira Feijó a Gonçalves Viana (1734-1911), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, pp. 753-754. Escreve a autora que: «outro aspeto importa salientar: o facto de o Brasil, o outro condómino da língua (…), não ter sido ouvido. Na verdade, mesmo às vésperas da publicação oficial dos trabalhos da Comissão ouviam-se vozes apreensivas acerca do rumo da questão ortográfica nos dois países»². Assim, apenas em 1931 será aprovada uma primeira tentativa de ortografia unificada e simplificada entre Portugal e Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, a qual, de resto, seguia muito perto as propostas introduzidas pela Reforma Ortográfica de 1911. No entanto, este primeiro acordo ortográfico não viria a vingar.
¹ Nas páginas do sítio da Direção-Geral da Educação (Ministério da Educação e Ciência de Portugal), também se disponibiliza uma cronologia que se refere a esta situação: «1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita, mas que não foi extensiva ao Brasil.»
² A Comissão em referência era a Comissão de Reforma Ortográfica, constituída, entre outros, pelos mais prestigiados filólogos da época, entre os quais Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Francisco Adolfo Coelho, Cândido de Figueiredo, José Leite de Vasconcelos e Gonçalves Viana, principal teorizador da Reforma de 1911.
N.E. – Desde cedo, os jornais da época noticiaram e comentaram esta primeira iniciativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa. Por aí pode acompanhar-se a preparação de impressores e tipógrafos para receber a reforma em vigor desde 1911; por aí perpassa o terçar de armas a favor de e contra, que chegou a ser impugnado por petição coletiva; e por aí se percebe que a liça em torno do mais recente Acordo Ortográfico de 1990 é o regressar de uma velha questão do princípio do século XX, em que entraram nomes como José Correia Nobre de França, Alexandre Fontes, Henrique Brunswick e os dos filólogos Aniceto dos Reis Gonçalves Viana e Cândido de Figueiredo, que assinaram cartas em Diário de Notícias e n' O Seculo. Intitulada “A Questão Ortográfica", Gonçalves Viana, relator da Comissão Oficial da reforma ortográfica de 1911, dirigiu uma a carta Rodolf Horner e uma outra a Cândido de Figueiredo (“A reforma ortográfica").
Cf. Ortographia escripta: como se escrevia antes do Acordo Ortográfico de 1911