DÚVIDAS

Para já…

Gostaria me esclarecessem uma dúvida premente em relação a uma frase escrita, começada por «para já». Poderá essa frase ter uma conotação autoritária, imperativa e não apropriada para, por exemplo um jovem, se dirigir a uma pessoa idónea e/ou de prestígio?
O caso vertente passou-se com a minha filha de 12 anos que, necessitando de apoio, num trabalho que está a realizar, se dirigiu por “e-mail” a um amigo meu (logo, muito mais velho que ela), explicando que tinha iniciado o trabalho, no entanto necessitava de alguns esclarecimentos... e continuou: «para já, preciso que me diga qual...».
Ora o meu amigo, na sua resposta aproveitou a oportunidade para dizer à menina que nunca mais usasse aquele tipo de frase com ele. Se queria ajuda, muito bem, mas que a teria de pedir de outra forma e não como se falasse com os seus colegas de escola.
Tanto a minha filha, como eu própria, demos e damos a esta frase o significado de «por agora/para começar/de momento». Nunca a mesma foi usada de forma imperativa, muito menos ofensiva.
Suponho que se o «para já» aparecer no fim de uma frase do tipo «Quero isto para já», aqui sim, estamos perante um tom imperativo/autoritário.
Muito agradecíamos (eu e a minha filha) o V/esclarecimento, tão breve quanto possível.
Antecipadamente grata.

Resposta

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (DHLP) considera que a locução adverbial para já pode ter dois sentidos:
1. Para ser realizado imediatamente: «Fugir daqui? É para já».
2. Por ora, neste momento; por enquanto: «Para já, não preciso da sua ajuda».
O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (DLPPE) dá-lhe o significado de: «presentemente, para agora, para este momento».
Penso que, tanto a segunda acepção do DHLP como a do DLPPE, se coadunam perfeitamente com a intenção que foi dada à frase «para já, preciso que me diga qual ...». Nada indica que, neste contexto, a pessoa em causa tivesse uma intenção imperativa ou autoritária. Num discurso oral, seria possível identificar essas características a partir da entoação, por exemplo, que a pessoa desse à expressão e à frase em geral. Na escrita, no entanto, é preciso que haja outros elementos para que se possa inferir isso.
Por outro lado, é preciso ver que a expressão por vezes tem outro sentido, que parece ser exclusivo do discurso oral, que funciona como um ancorador discursivo que serve para indicar que o que se segue é um argumento contrário àquilo que foi dito, e que tem de ser apresentado em primeiro lugar.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa