Tradicionalmente, então é considerado um advérbio de tempo (cf. Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 549). Neste caso, então incide sobre o grupo verbal, estabelecendo um intervalo temporal para a situação descrita:
(1) «O João chegou a casa. Preparou-se, então, para dormir uma sesta.»
Enquanto advérbio de tempo, então tem também uma função de anáfora textual, uma vez que retoma o intervalo de tempo construído na situação anterior («chegar a casa»), definindo-a como ponto de partida para o desenvolvimento da situação seguinte («dormir uma sesta»). Neste caso, então não é uma conjunção porque não tem a função de relacionar duas orações.
Então pode ser usado com uma função semelhante à de uma conjunção quando tem um valor argumentativo1, como em:
(2) «O João adora dançar, então vai participar no concurso.»
Neste caso, então relaciona as duas orações, introduzindo uma conclusão que se pode extrair do que ficou dito anteriormente. Nesta situação, equivale a portanto.
Também é possível assinalar um uso de então com comportamento geral de conjunção em frases condicionais como:
(3) «Se queres ganhar o concurso, então tens de treinar todos os dias.»
Na frase (3), então introduz a oração que apresenta a condição necessária para a concretização da situação descrita na oração subordinada.
Numa perspetiva de análise do texto, então funciona nestas situações como um conector textual.
Para um maior aprofundamento desta questão, sugiro a leitura do artigo «Então: elementos para uma análise semântica e pragmática», de Ana Cristina Macário Lopes1.
Disponha sempre!
1. Este valor é proposto por Lopes in «Então: elementos para uma análise semântica e pragmática» in Actas do XII Encontro da APL. Braga, 1996, pp. 182-185 (disponível em linha).