O pronome vós e formalidade
Tenho uma dúvida referente ao uso do pronome vós em situações mais formais.
No norte de Portugal, o pronome vós é comummente usado em situações informais, entre amigos, por exemplo. No entanto, gostava de saber se também é apropriado usar o vós em contextos mais formais.
Por exemplo, se estou a falar com duas pessoas mais velhas do que eu, individualmente, vou tratá-las por você.
A minha dúvida é saber, se estiver a falar com as duas ao mesmo tempo, se posso usar o pronome vós? Não sei se pode ser considerado informal ou desrespeitoso dizer algo, como: «Tudo bem convosco?» ou «Este carro é vosso?»
Agradeço desde já!
As contrações à e ao na criação de locuções
Há regras de como criar locuções a partir das contrações à e ao?
A exemplo, temos «à ajuda» em «A casa foi construída à ajuda»: não é uma locução definida nos dicionários, por exemplo, mas realmente está correta como locução?
Obrigado.
Aumentativo de blusa
Blusão é aumentativo de blusa?
O nome pátrio de Maldivas
De entre as formas contempladas, qual a etimologicamente mais correta para designar um natural das ilhas Maldivas?
Os meus agradecimentos.
Voz passiva com estar
Desde já muito obrigada pelo vosso trabalho.
Ao explicar a uma aluna estrangeira a formação da voz passiva indiquei que geralmente o verbo auxiliar para a formação da voz passiva é o verbo ser. Contudo, expliquei também que apesar de o verbo ser constituir o verbo principal da voz passiva, verbos como estar, ficar, ... combinados com um particípio também podem formar a voz passiva.
A pergunta da aluna foi: «quando é que eu sei se tenho de usar o verbo ser ou o verbo estar?»
Dado que na língua nativa dela (francês) só existe um verbo com o mesmo significado (être), torna-se mais complicado entender o significado de cada verbo.
Ex.: «A mãe lavou a minha camisola. A minha camisola foi lavada pela mãe. A minha camisola está lavada.»
Para a aluna, faria sentido dizer «A minha camisola esteve lavada...»
Entendo que quando em português usamos o verbo estar, estamos na verdade a deixar claro o resultado da ação, mas acabei por não encontrar nenhuma explicação lógica/prática para esta questão.
Poderiam esclarecer-me, por favor?
Muito obrigada.
«É pena» + infinitivo
Estão corretas as frases «É pena ele tê-la abandonado» e «É pena tu tere-la abandonado»?
Obrigado.
Comparativo: «mais bem do que mal»
É correto dizer «Falaste mais bem dele do que mal» ou dever-se-ia dizer: «Falaste melhor...»?
Efetivamente, o senso comum diz-nos que, quando o verbo não está no particípio passado, se deve dizer melhor. No entanto, no entender de alguns puristas como Sá Nogueira, melhor é comparativo de «mais bom» e nunca de «mais bem», como julgo que afirmam numa das vossas respostas.
Mesmo assim, esta posição será válida?
Tendo fundamento, devemos ser nós mais puristas ou laxistas?
Malgrado a insistência neste tópico que se faz presente nas respostas inúmeras dadas aqui na página, gostaria que me elucidassem (e, se o assunto for polémico e não se importarem, debatessem) as minhas dúvidas.
Um bem-haja a todos os consultores!
Relações de causalidade, tempos verbais e condicionais
Eu percebo que as orações que estabelecem relações de causalidade trabalham com os verbos no presente e no passado (tanto na oração principal quanto na oração subordinada).
Eu queria saber se isso é uma obrigação ou uma facultatividade.
Mais uma coisa: eu posso dizer que as orações condicionais e finais possuem uma relação subsidiária de causa-efeito?
Desde já, agradeço.
Conjugação pronominal reflexa de sagrar
Na frase «O Manuel sagrou-se campeão nacional», «campeão nacional» desempenha a função sintática de predicativo do complemento direto ou de predicativo do sujeito?
Muito obrigada!
Colocação do clítico com o verbo poder
Não tenho dúvidas sobre as posições possíveis do pronome pessoal átono nas construções formadas por auxiliar finito e verbo principal no infinitivo. Há mesmo muitas respostas sobre o assunto.
Contudo, interessa-me saber se é coerente a justificativa para a norma idiossincrásica que sigo. Sei estarem em conformidade com o uso culto corrente as seguintes construções, transcritas da resposta do consultor Carlos Rocha à consulente Ana Magalhães, em 7 de novembro de 2018:
1. Vai/Pode conhecer-se muitos lugares.
2. Vai-se/Pode-se conhecer muitos lugares.
3. Vão/Podem conhecer-se muitos lugares.
4. Vão-se/Podem-se conhecer muitos lugares.
Sei também que se é pronome indeterminado em 1 e 2, mas apassivante em 3 e 4, estas consideradas preferíveis pela norma mais conservadora.
Vem, finalmente, a minha pergunta: a despeito de o uso corrente não fazer distinção entre as construções formadas por um auxiliar modal e as formadas por um não modal, não há alguma diferença entre elas, que tem implicações relevantes? Explico-me com exemplos.
Não se diria, normalmente, «Conhecer muitos lugares pode-se», mas a frase não é agramatical e poderia ser empregada para fins enfáticos, como em «Conhecer muitos lugares pode-se; o que não se pode é usar o desejo de conhecer muitos lugares como pretexto para justificar a falta de compromisso com os estudos». Portanto, «Conhecer muitos lugares» é sujeito, e, como o núcleo do sujeito é um verbo no infinitivo, a forma verbal finita mantém-se no singular: «pode-se». Trata-se, a meu ver, não de construção com sujeito indeterminado, mas sim de construção com sujeito determinado, cujo núcleo é um verbo no infinitivo que obriga à manutenção da forma verbal finita no singular.
Por ser construção com sujeito determinado é que entendo menos aceitável (sempre à luz do meu raciocínio, e não do uso corrente) o exemplo 1. Veja-se que não haveria construção enfática que salvasse da agramaticalidade «Conhecer-se muitos lugares pode». É aqui que está a distinção dos auxiliares não modais, sujeitos, a meu ver, a restrições ligeiramente diferentes.
Não se diz, penso eu, «Conhecer muitos lugares vai-se», nem sequer numa construção enfática como «Conhecer muitos lugares vai-se; o que não se vai é conhecer todos num só dia». Não se diz tampouco «Conhecer-se muitos lugares vai». O núcleo do sujeito não é, diferentemente do que ocorre com os auxiliares modais, um verbo no infinitivo, mas sim um substantivo: lugares.
É, a meu ver, esta a razão por que a norma mais conservadora exige a concordância do verbo auxiliar não modal com o substantivo («Vão-se conhecer muitos lugares»), mas considera possível a concordância do auxiliar modal tanto com o substantivo quanto com o verbo no infinitivo, embora prefira, diferentemente de mim, que se faça a concordância com o substantivo, e não com o verbo no infinitivo.
O que descrevo parece decorrer da preservação pelo auxiliar modal de parte da sua função plena, completamente faltante ao auxiliar não modal, a que chamo auxiliar puro. É por isso que prefiro, independentemente seja da norma mais conservadora, seja dos usos cultos correntes, as formas seguintes:
1. Pode-se conhecer muitos lugares (modelo para construções com auxiliares modais).
2. Vão conhecer-se muitos lugares (modelo para construções com auxiliares não modais).
Entendo que é junto ao verbo principal o lugar "natural" para o pronome apassivador, pois a função deste é indicar a apassivação daquele nas construções com auxiliares não modais, como a do exemplo.
É internamente coerente a justificativa para a norma idiossincrásica que sigo?
Grato pela atenção,
P.S.: Vejo uma diferença sutil entre «Pode-se conhecer muitos lugares» e «Podem-se conhecer muitos lugares». No primeiro caso, o verbo poder teria a acepção de permissibilidade, e, no segundo, de possibilidade ou capacidade, pelo que somente no segundo caso a frase equivaleria a uma passiva sintética, correspondente à passiva analítica «Muitos lugares podem ser conhecidos», em que o núcleo do sujeito é «lugares».
