DÚVIDAS

«Sentir falta» ≠ «sentir a falta»
Ao rever um livro, deparei com duas frases quase seguidas em que se podia ler, na primeira, «era verdade que ela lhe fizera falta» e, na segunda, «mas de quem sentira mais a falta [...]». Pergunta: devemos escrever «falta» ou «a falta»? A diferença de verbos tem, neste contexto, alguma relevância para a questão, de tal modo que ambas as frases estão corretas? E, se ambas as frases estão corretas mas tal não se deve à mudança verbal, qual é a forma mais correta? Muito obrigado.
A história de cor em «saber de cor»
Há poucos dias procurei a origem da expressão «saber de cor»* e fiquei a saber que cor significa «coração» em latim. Como na expressão portuguesa a palavra é pronunciada de uma maneira diferente do normal ("cór" em vez de "côr"), pesquisei-a em dicionários online e descobri que em português antigo, a palavra cor ("cór") é um substantivo masculino para coração... mas não consegui encontrar as fontes/referências dessa definição. Gostaria de vos perguntar se conhecem algum dicionário em formato físico ou digital em que conste o mesmo, ou qualquer outra fonte de informação que apoie/comprove a informação que encontrei. Os dicionários modernos em que procurei só têm o significado actual, provavelmente porque não incluem arcaísmos de todo, e no Vocabulário Portuguez e Latino digital que consultei através do site da Biblioteca Nacional Portuguesa, só consta a definição actual de cor ("côr"). Desde já com os melhores agradecimentos.
Os significados de todo/toda, novamente
Em 2008, [foi] dada uma resposta relativamente [ao tema de] todo. Depois de ler esta resposta, continuo com dúvidas relativamente a esta questão. Quando os determinantes significam «inteiro», em frases como «comi o frango todo» ou «comi todo o frango», a segunda opção não me soa tão bem como a primeira. Não sei se existe algum motivo para isso, mas reconheço que pode ser apenas uma questão pessoal, de uso. Porém, quando o quantificador significa «qualquer» ou «cada» (ainda que, por vezes, me custe reconhecer em algumas frases este significado), nem sempre é possível intercambiar o lugar de todo/a. Em frases como: 1. “procurei-o por todo o lado” vs. *”procurei-o pelo lado todo” (O significado é «qualquer» ou «inteiro»?) 2. “procurei-o por toda a parte” vs. *“procurei-o pela parte toda” (O significado é «qualquer» ou «inteiro»?) 3. “todo o bebé chora” vs. “o bebé todo chora” (no segundo caso, acho que se trata de um uso adverbial, tal como em “ficou todo zangado” e não significa o mesmo). 4. “todo o médico tem a sua maneira de lidar com os doentes” vs. *o médico todo tem a sua maneira de lidar com os doentes”. 5. “toda a gente chora” vs. “a gente toda chora” (no segundo caso trata-se de um uso adverbial?) A minha dúvida relativamente ao significado deste quantificador, particularmente quando se indica que tem a aceção de «cada» e «qualquer», também está relacionada com os exemplos dados na resposta do Ciberdúvidas em 2008. Todos os exemplos estão [no] plural. Acho que quando se usa todos/as + artigo + substantivo estamos a falar da totalidade numérica de um dado conjunto (dos elementos desse conjunto). Porém, quando se usa todo/a + artigo + substantivo o significado é de «inteiro». Relativamente às frases 1 e 2, reconheço que os substantivos lado e parte, ao serem polissémicos, possam ocasionar estas impossibilidades. Tanto assim, que se se usar [no] plural, a expressão apresenta outro significado: «por todos os lados» em frases como «uma ilha é uma porção de terra rodeada pelo mar por todos os lados». A sensação que tenho é que o uso dos quantificadores todo/a ([no] singular), com o significado de «qualquer» ou «cada» não é tão comum na variedade de português europeu e apresenta algumas restrições na posição de todo/a. Gostaria por favor que me esclarecessem sobre estas questões. Desde já agradeço a vossa atenção e muito obrigada pelo vosso trabalho.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa