«Senhora presidenta»/«senhora presidente»
«Senhora presidenta» ou «senhora presidente»?
Vende-se ou vendem-se?
E aqui vai uma questão (só para assinalar esta data!), a partir de comentários que, há tempos, recebi de um leitor. Perdeu-se quase por completo, creio, a consciência da diferença entre o "se", pronome apassivador, e o "se", símbolo de indeterminação do sujeito (correspondente ao on francês, ou ao man, alemão). É cada vez maior a tendência para se dizer, por exemplo, «falam-se línguas estrangeiras», ou «vendem-se andares», em vez de «fala-se línguas estrangeiras» ou «vende-se andares». Regra geral, «se a indeterminação do sujeito for indicada pelo pronome, o verbo fica na 3.ª pessoa do singular"» (C. Cunha e L. Cintra, Gramática, p. 501). Mas poderá dizer-se ser verdadeiramente errada a construção que opte pela forma apassivante? Não haverá antes uma evolução no sentido de um suplemento de concordância (plural com plural), apassivando-se as coisas para que tal efeito se dê?
«Ecspô» e «Telecóme»
No «Jornal da Noite» da SIC, em 17 de Janeiro, o dr. António Vitorino, ministro que tutela a Expo 98, pronunciou várias vezes «ecspô». O repórter da SIC, na mesma peça, disse «eispô». Também tenho ouvido a outras figuras notórias (incluindo administradores da empresa) «telecóme» para designar a Telecom. Não há aqui umas pronúncias esquisitas?
Incidentaloma ou acidentaloma?
Trata-se duma situação clínica que corresponde ao aparecimento, sem se esperar, duma formação tumoral nas glândulas supra-renais, quando se faz, por ex. uma TAC ou ecografia do abdómen. Igual situação já existe para outras glândulas. Deve dizer-se incidentaloma da supra-renal ou acidentaloma? Na literatura anglo-saxónica diz-se incidentaloma. Entre nós apareceram grupos a dizer acidentaloma, o que penso ser incorrecto.
Rendível e não "rentável" (1ª parte)
Sou um engenheiro mecânico, estou no estrangeiro há quatro anos e nunca fui destro na língua portuguesa. No entanto, sempre tive um gosto pela gramática e filosofia da língua. Fiquei contentíssimo ao saber da existência destas páginas electrónicas e ainda mais ao ler a vossa nota de abertura: oh, maravilha das maravilhas. Afinal não estou só neste mundo... Há uns tempos atrás, alguém escrevia no "Público" acerca da língua portuguesa tentando corrigir erros. Oh desilusão das desilusões! Não duvido da competência de quem o fazia. A questão é que ele para coar mosquitos deixava passar uns sapos e parecia já estar conformado em engolir camelos. Se me permitem vou só brevemente dar 1 exemplo: a palavra rentável.
1) (Coar mosquitos) Pode ser que essa palavra não tenha sido introduzida no dicionário, mas toda a gente a emprega, soa bem, não choca com a fonética portuguesa, é sugestiva e pode ser compreendida sem o conhecimento prévio da palavra ou da correspondente francesa (rentable), não há palavra substituta, com um pouco de imaginação pode-se atribuir como derivada do verbo rentar...
2) (Deixar passar sapos) Foi então sugerido que se devia dizer rendível. Ora é caso para se dizer que é pior a emenda que o soneto. Pois há juros rendíveis e soldados rendíveis, mas não há negócios rendíveis mas rentáveis. A razão é simples, aquilo que é rendível é aquilo que pode ser rendido e não aquilo que rende ou pode render. Um coelho não é comível porque pode comer mas porque pode ser comido. Pode ser que formalmente essa pessoa estivesse certa, mas então é caso para dizer: que fazem os académicos, protegem e interpretam uma língua ou definem-na com arbitrariedades desrespeitando a filosofia da língua, que é o que lhe dá beleza?
3) (Conformado em engolir camelos) Por que é que não veio uma crítica à palavra randomizar ou cash flow, que não têm nenhuma das características apontadas em 1)?
Tenho muito mais para dizer e perguntar mas fica para uma outra vez. Obrigado!
Bichas ou filas?
Até há alguns anos estas duas palavras eram utilizadas com significados distintos dos que lhes são atribuídos hoje, creio que por influência do português do Brasil. Refiro-me nomeadamente à generalização do uso da palavra fila para designar aquilo que era anteriormente descrito como uma bicha - de automóveis numa estrada ou de pessoas num local de atendimento público. Os dicionários que consultei não são claros em relação a esta questão. Na minha opinião a distinção entre ambos os termos era de algum modo feita pelas noções de movimento e de forma, usando-se a palavra bicha para designar uma aglomeração de indivíduos ou objectos, não necessariamente recta, por vezes algo sinuosa e anárquica, e parada ou quase (bicha de espera, bicha de trânsito), e a palavra fila para designar uma aglomeração de pessoas ou objectos em linha mais ou menos recta e em movimento (trânsito em duas filas). Parece-me que a tendência actual, que refiro, significa um empobrecimento semântico da língua. Qual a vossa opinião? Existe algum fundamento válido que justifique essa tendência? Qual a forma preferível para designar uma bicha de trânsito?
Pedregulho
Poderá dizer-se também "pedragulho" ?
Vós como plural
Vós é plural de você? Qual o plural de V.Exª, V.Revma, etc? E qual o plural de tu?
Mais mal / pior?
Mais mal ou pior, qual(s) das forma(s) é correcta(s)?:
1. Conduzir mais mal do que...
2. Conduzir pior do que...
«Fazer com que»/«fazer que»
Presentemente diz-se «fazer que ele venha». Eu penso que há 40 anos escrevia-se «fazer com que ele venha». Como escreviam os nossos clássicos? Pode admitir-se, como correcta, a segunda forma?
