DÚVIDAS

A expressão «ruço de mau pelo» (II)
A expressão «ruço de mau pelo» tem qualquer coisa a ver com o romance Rosso Malpelo de 1878 do escritor italiano Giovanni Verga? O romance conta a história de Rosso Malpelo, um garoto ruivo que trabalha numa pedreira de areia vermelha na Sicília. Pressionado pelos preconceitos da mentalidade popular acerca das pessoas com cabelos ruivos, Roso Malpelo não encontra afeto nem mesmo junto da própria mãe.
Perfil, perfilista, perfilístico e perfilador
Se o adjetivo referente ao género denominado ensaio é ensaístico, qual seria o adjetivo mais adequado para referir-me ao género jornalístico chamado perfil? Ocorreu-me a palavra "perfilístico"; porém, só encontrei esse termo num único trabalho académico na Internet, o que me fez levantar dúvidas quanto à sua suposta existência em língua portuguesa. Desde já, agradeço-lhes a atenção.
Vírgulas e modificadores apositivos
Antes de mais, parabéns pelo excelente trabalho realizado neste portal. A minha questão é sobre a utilização da vírgula numa situação em específico. Em diversos textos jornalísticos, tenho visto que a vírgula é colocada entre a função de determinada personalidade e o seu nome (exemplo: «Em comunicado, o diretor da Casa-Memória de Camões, António Coelho, refere que...»). No entanto, já tive professores que me indicaram que a vírgula não deveria ser colocada nestes casos, até porque tinha um valor de restrição (ficando «... o diretor da Casa-Memória de Camões António Coelho refere que...») . Os mesmos professores indicaram, no entanto, que a vírgula deveria ser colocada quando as posições se invertem, isto é, quando surge em primeiro lugar o nome da personalidade e depois a função. Desta forma, a função ganha valor de explicação (exemplo: «Em comunicado, António Coelho, diretor da Casa-Memória de Camões»). Solicitava uma clarificação sobre este assunto e qual a forma correta de utilização da vírgula. Obrigado.
A vírgula e as expressões religiosas «ave, Maria» e «salve, Rainha»
Na conhecida oração ave-maria, uma saudação à Virgem Maria, não deveria o vocativo Maria estar separado por vírgula («Ave, Maria, cheia de graça! O Senhor é convosco…», em vez de «Ave Maria, cheia de graça…», como aparece em todos os textos? O mesmo se poderia perguntar em relação àquela outra oração católica salve-rainha: «Salve, Rainha, Mãe de misericórdia…», e não, como vemos sempre, «Salve Rainha, Mãe de misericórdia…». Sabendo nós que os imperativos latinos ave e salve se tornaram interjeições de saudação em português («Viva, Maria!», «Olá, Maria!»), poderemos considerar que a falta de vírgula nos textos das orações ave-maria e salve-rainha se enquadra no chamado «consagrado pelo uso»? Como neste interessante artigo [de Gonçalo Neves], do Ciberdúvidas se refere, «é frequentemente citada (e até se encontra numa aventura de Astérix...) a frase com que os gladiadores, já na arena, saudavam o imperador antes de entrarem em combate: "Ave, Cæsar, morituri te salutant." É curioso notar que o tradutor Paulo Rónai se serviu de salve para traduzir este ave: "Salve, imperador, os que vão morrer saúdam-te..."» É interessante notar que o dicionário em linha Infopédia regista o seguinte, devidamente virgulado: «do latim eclesiástico Ave, Maria, «ave, Maria!»” Muito obrigado.
A concordância temporal de e faz na frase «não trabalhava...»
Carlos Nougué em sua Suma Gramatical da Língua Portuguesa escreve: “ «"Não trabalhava faz dois anos" nem remotamente nos soa correta. E, no entanto, tão incorreta como "Não trabalhava faz dois anos" é "Não trabalhava há dois anos". Pois bem, use-se o verbo fazer ou o verbo haver, não se infrinja nunca o devido paralelismo ou correspondência verbal, e escreva-se corretamente: "Não trabalha há/faz dois anos" ou "Não trabalhava havia/fazia dois anos".» Apesar de clara, a explicação não contém tantos exemplos. Fiquei, portanto, com certas dúvidas. Estariam corretas construções como estas – «Aquelas ideias já foram esquecidas há tempos» e «Estive nos Estados Unidos há dois anos»–, porquanto Nougué prefere, por exemplo, «Decorreram dois anos que se casaram» a «Há/Faz dois anos que se casaram», considerando esta última como figura anômala? Obrigado.
Calças e par de calças
Bom dia! A minha dúvida prende-se com a utilização e interpretação, por exemplo, numa mesma encomenda, da palavra calças e par de calças. Como interpretar a expressão "par de calças" num contexto em que a pessoa, por exemplo, se refere a "calças" para indicar o modelo, mas ao efetuar a encomenda refere que pretende comprar "três pares de calças"? Devemos sempre assumir que neste tipo de situações (por exemplo, par de óculos) "um par" é apenas uma unidade, e por isso sinónimo de "calças", ou a interpretação matemática de "par" também pode ser aplicada corretamente (nesse caso, um "par de calças" poderá significar duas calças)? Quando num mesmo contexto se usa a mesma terminologia, a questão será fácil de interpretar mas, e quando no mesmo contexto surgem as duas terminologias? Obrigada!
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa