A forma da locução «de braço dado» – «andar de braço dado com alguém» – tem registo dicionarístico com os constituintes braço e dado no singular e é com esta forma que se usa geralmente. É assim que a expressão figura, por exemplo, no Dicionário Houaiss ; ou no Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático de Énio Ramalho (Lello Editores), no qual é exemplificada com uma frase de Camilo Castelo Branco – «dali saíram, de braço dado, a casa do despachante» –; ou, ainda, no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia de Ciências de Lisboa, no sentido de «ir apoiado no braço de outra pessoa, que por sua vez vai apoiada no seu». De facto, se visualizarmos a ação, percebemos que uma pessoa entrelaça um só braço no braço de outra pessoa, ou seja, dá um só braço a alguém. Note-se que, além do significado literal da expressão, esta pode também significar «estar de acordo com alguém; em parceria» (idem).
Observe-se, no entanto, que é possível documentar a variante «de braços dados», a incluir formas de plural, não só em textos recentes, mas também em textos de começos do século passado, que podem ter caráter literário:
(1) «Tomado o café retiraram-se, mas todos por um impulso instintivo, dirigiram seus passos para o salão, Henrique e Malvina de braços dados pelo grande corredor da entrada, e Leôncio sozinho por compartimentos interiores, que comunicavam com o salão» [Bernardo Guimarães (1825-1884), A Escrava Isaura in Corpus do Português, de Mark Davies].
É de realçar que, na secção histórica do corpus consultado, a variante «de braços dados» (14 ocorrências) é minoritária quando comparada com «de braço dado» (100 ocorrências). Contudo, na secção contemporânea do mesmo corpus, as duas formas equiparam-se, atingindo ambas mais de 400 ocorrências; mas se observam tendências de uso por variedades linguísticas nacionais: em textos do Brasil, a forma «de braços dados» é claramente maioritária (371 ocorrências), enquanto nos textos de Portugal, «de braço dado» predomina claramente (344 ocorrências).
Conclui-se, portanto, que ambas as variantes estão corretas, ainda que a forma maioritária em Portugal tenha o favor da dicionarística (mesmo brasileira)1. Deve, no entanto, observar-se que a variante «de braços dados» não é propriamente o plural da locução adverbial em apreço, visto que os advérbios e as locuções adverbiais não pluralizam. O que acontece é que «de braço dado» tem uma variante correta, também ela correta e bem consolidada no português escrito do Brasil, em que as palavras braço e dado estão no plural, talvez por analogia com outras locuções adverbiais como «de braços abertos» ou «de braços cruzados».
1 Consulte-se o Dicionário Houaiss e o Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
N. E. – Resposta alterada em 25/04/2020.