Com agradecimentos pelas palavras iniciais do consulente, é também com apreço que se regista aqui a sua dedicação ao galego e ao português.
Nas fontes consultadas para elaboração desta resposta, não foi possível achar registo do uso de deda, «dedo do pé», em Portugal, nem mesmo em âmbitos regionais. Trata-se muito provavelmente de uma criação exclusivamente galega, que resulta de uma derivação de dedo, num processo que se apoia no contraste de género morfológico entre os índices temáticos -o e -a em pares como carvalho/carvalha, cesto/cesta, jarro/jarra, manto/manta, rio/ria, etc.
Sobre este tipo de pares, pode ler-se na Moderna Gramática Portuguesa (Editora Lucerna, 2003, p. 132), de Evanildo Bechara:
«[...] a oposição masculino – feminino faz alusão a outros aspetos da realidade, diferentes da diversidade de sexo, e serve para distinguir os objetos substantivos por certas qualidades semânticas, pelas quais o masculino é uma forma geral, não-marcada semanticamente, enquanto o feminino expressa uma especialização qualquer
barco / barca (= barco grande)
jarro / jarra (um tipo especial de jarro)
lobo / loba (a fêmea do animal chamado lobo)
Esta aplicação semântica faz dos pares barco / barca e restantes da série acima não serem consideradas primariamente formas de uma flexão, mas palavras diferentes marcadas pelo processo de derivação. Esta função semântica está fora do domínio da flexão.»
Que exemplos como barca e jarra não são, pelo menos referencialmente, femininos é também ideia que defendeu Ricardo Carballo Calero, na sua Gramática Elemental del Gallego Común (Vigo, Editorial Galaxia, 1975, p. 156).
«Entre los nombres de cosas los hay que forman parejas cuyos individuos sólo se diferencian fonéticamente por la terminación -o o -a, siendo los primeiros masculinos y los segundos femeninos. Pero son semánticamente independientes, el uno no es el femenino del otro, designan cosas distintas, aunque etimológicamente estén relacionados. En muchos casos, las formas en -a proceden del plural neutro latino, y tienen, al menos originariamente, carácter colectivo. Lo mismo ocurre en castellano. Así froito 'fruto', froita 'fruta'. Pero tambiém es frecuente que el sufijo -a, dando, desde luego, género gramatical femenino al nombre, le imprima un sentido aumentativo. En algunos casos, el derivado puede ser el masculino en -o, que reviste carácter diminutivo:
agro 'extensión de terreno cercado, que suele pertenecer a un solo dueño y está en todo o en parte dedicado a producciones espontáneas de tojo, brezo, etc.'
agra 'extensión grande de terreno labrantío, que suele pertenecer a varios' [...]
carballo 'roble'
carballa 'roble viejo, de tronco voluminoso y de copa tupida y muy desarrollada' [...].»
Votos de boa saúde para todos em Ferrol.