DÚVIDAS

A + infinitivo com valor condicional
Volta e meia, me deparo com construções sintáticas encabeçadas pela preposição "a" como a do exemplo que segue : "A depender da palavra, até a leitura pode ser complicada." A meu ver, o valor semântico da referida preposição neste contexto seria aproximado ao do valor expresso por uma conjunção conformativa. Assim, equivaleria a dizer: conforme o tipo de palavra usada, até a leitura pode ser complicada. Ante isso, por gentileza , peço, se possível for, um esclarecimento sobre o fato. Estou mesmo certo ou me equivoco? Desde já grato pelo apoio de sempre.
O significado de um/uma numa enumeração
Há muito que às vezes me deparo com enumerações em que não me parece confortável dar aos termos o mesmo tratamento no que diz respeito ao uso dos artigos. Peço licença de dar um exemplo bastante simplório para mostrar o que gera minha dúvida: «Ontem, não dormi, fui incomodado por mosquitos, aranhas e uma barata.» No exemplo, mosquitos e aranhas não recebem artigo nem definido nem indefinido. Já barata, essa, sim, recebe o indefinido. Nenhuma outra redação me parece satisfatória nesse tipo de situação, pois se disser «por uns mosquitos, por umas aranhas e por uma barata» fico com a impressão de diminuir a vagueza quanto a mosquitos e aranhas. Se disser «por mosquitos, aranhas e barata», pensando bem, não encontro problemas maiores, embora sinta (talvez por cacoete) a falta do artigo indefinido diante do único item no singular. Assim, tomo a liberdade de perguntar qual seria a melhor solução em casos assim de acordo com um estilo de escrever atento ao paralelismo nas construções. Muito obrigado desde já!
A grafia de reflito e reflita em 1940
Sobre a forma reflectir, grafia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990, o Dicionário de Verbos Portugueses da Plátano Editora, na sua edição de março de 1993, regista, na pág. 109, a seguinte nota: «Verbos terminados em -ectir: mudam o e do radical em i na 1.ª pess. sing. do presente do indicativo, em todas as pessoas do presente do conjuntivo (subjuntivo) e nas pessoas derivadas deste tempo no imperativo. O c do radical desaparece nestas formas verbais.» Não encontrei esta regra sobre a queda do c do radical em mais lado nenhum. No Prontuário da Língua Portuguesa da Editorial O Século (6.ª edição, abril 1975), registam: reflectir – reflicto, reflecte, reflectimos; reflicta, reflictamos, etc. Na versão do Dicionário Priberam conforme a norma de 1945, o verbo também aparece ortografado com o c do radical. Na rubrica da SIC “Nós por cá”, inserta no Jornal da Noite de domingo, dia 2.10.2005, a apresentadora mostrava um cartaz, onde se lia a palavra reflita e afirmava que a autarquia devia mandar emendar o erro, pois o certo seria reflicta. A minha questão é, pois, a seguinte: a referida nota do Dicionário de Verbos Portugueses da Plátano Editora estará correta e, cumulativamente, antes do Acordo Ortográfico de 1990 grafava-se este c do radical em toda a conjugação do verbo refletir
Os pronomes relativos
Comecei recentemente uma jornada académica concernente ao estudo do período subordinado. Em tese, sabe-se que as orações subordinadas adjetivas são introduzidas pelos pronomes relativos. No entanto, fiz muitas pesquisas em gramáticas e achei muitos exemplos de orações subordinadas adjectivas iniciadas somente com os pronomes relativos que e quem! Ora, gostaria muito de saber se outros pronomes relativos – onde, cujo, quanto, etc. – não devem ser empregados na construção das orações supracitadas ou se existem regras específicas. Peço o vosso esclarecimento quanto à questão formulada. Muito obrigado!
O topónimo Riachos
O nome da minha terra, Riachos, parece ter origem no nome ou alcunha de um homem, «O Riacho», que surge já num documento de 1502. A partir de 1560 aparecem os primeiros registos referentes às famílias de «Afonso Fernandes Riacho» e «Simão Fernandes Riacho». A partir de 1622 aparece a referência aos «Casais do Riacho» e a partir daí o lugar passa a ser designado por Casais dos Riachos ou simplesmente Riachos (em 1656, um casamento na ermida de Santo António «sita nos Casais dos Riachos»). Riachos, como localidade, teve origem na aglutinação de vários casais, cujos nomes ainda existem, referindo ruas ou zonas da terra, como Casal das Lobas, Casais Novos, Casal da Raposa, etc. As pessoas em Riachos sempre disseram «os Riachos» e «nos Riachos», e os mais velhos diziam mesmo «o Riacho» e «no Riacho». Nos nossos dias ainda há quem diga, quando se desloca de uma rua longe do centro da terra, para o largo, que vai «ao Riacho», ou seja, que vai ao largo da terra, ao centro. Mas hoje há quem defenda que o mais correto é dizer-se que se vive «em Riachos», e não «nos Riachos», que se é «de Riachos» e não «dos Riachos». Eu própria autocorrigi-me por volta dos meus 18 anos, pensando que dizia mal, tal como a minha família, que era «dos Riachos». A Câmara Municipal resolveu a questão há anos atrás, normalizando tudo, ficando assim: «Freguesia de Riachos», «Freguesia de Meia Via», «Freguesia de Pintainhos», «Freguesia de Lapas», «de Brogueira», «de Mata», «de Ribeira Ruiva», etc. Há pessoas que continuam a usar o artigo, outras a contrariar isso, e a polémica está instalada, com pessoas a chamar ignorantes no Facebook aos que continuam a referir-se à terra tal como aprenderam no seio das suas famílias. Agradeço por isso o vosso esclarecimento, pedindo desculpa pelo texto longo, mas que julguei útil.
Os nomes carrasco, carrasca, carrasquenha e carrascal
Venho ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para perguntar a origem da palavra carrascal. A minha família detém uma pequena produção de azeite no interior do país, distrito da Guarda. O meu avô sempre intitulou o olival de carrascal. Não sei o motivo, pode estar relacionado com a qualidade de oliveiras (carrasquenha) predominante no olival e por toda Beira Alta/Interior. Estou a desenvolver a identidade/rótulo para o azeite no âmbito de projeto de mestrado e gostava de saber a origem para fundamentar a proposta. Obrigada.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa